Corinthians revê San José após 49 dias de tragédia e reviravoltas.


10 de ABRIL de 2013 - Foi no dia 20 de fevereiro de 2013 que um sinalizador foi disparado do meio da torcida do Corinthians no Estádio Jesús Bermúdez, em Oruro, e perfurou o crânio de Kevin Espada, 14 anos, torcedor do San José que ia ao estádio pela primeira vez. A tragédia que tirou os holofotes do futebol na Copa Libertadores 2013 completa nesta quarta-feira 49 dias marcados por reviravoltas e controvérsias. E agora, chegou a vez dos dois times se reencontrarem, no duelo marcado para as 22h, no Pacaembu.
Duelo que, se fosse seguida a primeira versão da punição que a Conmebol definiu ao Corinthians, deveria acontecer sem torcida. Mas a diminuição da pena do clube paulista foi apenas uma das polêmicas que cercaram o caso. As autoridades bolivianas ainda mantêm presos 12 torcedores alvinegros acusados de homicídio, e os desdobramentos do caso incluem a confissão de um adolescente e até amistoso cuja renda deveria ter sido revertida à família do garoto. Às vésperas de um novo Corinthians x San José, relembre a história por trás da partida.
O empate por 1 a 1 entre San José e Corinthians ficou em segundo plano depois de um jovem torcedor boliviano morrer após ter sido atingido na cabeça por um sinalizador. As imagens mostravam claramente que o objeto partira da torcida alvinegra, e 12 corintianos acabaram presos – alguns carregavam fogos de artifício consigo, mas as prisões foram consideradas "aleatórias" por brasileiros que estavam presentes no estádio.
No dia seguinte, 21 de fevereiro, saiu a bomba: a torcida do Corinthians estava proibida de frequentar os jogos do time, em casa e fora, até o fim da Libertadores. O clube brasileiro imediatamente recorreu da decisão junto à Conmebol, mas não haveria tempo hábil para reverter a decisão antes do jogo da quarta-feira seguinte contra o Millonarios, no Pacaembu.
Enquanto os 12 corintianos na Bolívia eram acusados formalmente de homicídio por suposto envolvimento na morte de Kevin, o caso ganhava um novo capítulo no Brasil. Um adolescente de 17 anos, de iniciais H.A.M., confessou em entrevista à Rede Globo ter sido o autor do disparo acidental do sinalizador. A confissão foi recebida com ceticismo pelas autoridades bolivianas, que se negaram a liberar os detidos brasileiros. Já H.A.M. ganhou bolsa integral para cursar uma faculdade em São Paulo e teve a identidade preservada.
O jogo sem torcida
Em 27 de fevereiro, o segundo jogo do Corinthians na Libertadores aconteceu da forma mais estranha possível: sem a fiel torcida no Pacaembu. O time jogou bem e bateu o Millonarios por 2 a 0 no deserto estádio. No mesmo dia, a Bolívia anunciou um amistoso contra o Brasil para o início de março. O presidente da CBF, José Maria Marin, falou em "jogo da solidariedade" e disse que a renda do jogo seria revertida à família de Kevin Espada, mas o jornal Folha de S. Paulo provou com documentos que a partida já estava acertada desde 2011, e que a renda devia, por contrato, ficar com a federação boliviana. Mais uma controvérsia.
Não durou muito a pena do Corinthians. Em 7 de março, a Conmebol reduziu a punição e liberou a torcida alvinegra para os jogos no Pacaembu, mantendo a suspensão apenas para partidas fora de casa. A reação se dividiu entre os que concordaram que o clube não teve responsabilidade na morte de Kevin, e os que levantaram o argumento de que a Conmebol, como sempre, falhava em aplicar penas pesadas para casos de violência em suas competições.
O Corinthians voltou a jogar diante de sua torcida na Libertadores em 13 de março, vencendo o Tijuana por 3 a 0. E doze "loucos do bando" certamente estariam nas arquibancadas se não se encontrassem presos em Oruro. A situação dos corintianos detidos gerou protestos da principal organizada do clube na Avenida Paulista, mobilizou o presidente Mário Gobbi e resultou até em intervenção estatal, com deputados federais viajando à Bolívia para tentar agilizar a liberação dos brasileiros no país vizinho.
Na cadeia, os corintianos foram inicialmente mal recebidos. Mas hoje já têm amigos no presídio e formaram até time de futebol para disputar o campeonato interno. E as autoridades bolivianas não demonstram pressa em definir a situação dos detidos, todos membros de torcida organizada – a reconstituição do dia da morte de Kevin, marcada para a última segunda-feira, acabou adiada para o próximo dia 17.
É com todas essas polêmicas se sobrepondo ao futebol que Corinthians e San José se reencontram no Pacaembu. O caso que marcou definitivamente a Libertadores 2013 ganha mais um capítulo nesta quarta-feira.

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