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Crânio exposto é flagrado no cemitério público São José, no bairro do Trapiche (Foto: Waldson Costa/G1)
 Crânio exposto é flagrado no cemitério público São José, no bairro do Trapiche.


24 de ABRIL de 2013 - Corpos enterrados de maneira inadequada diretamente no solo e em contato direto com os lençóis freáticos, sepulturas violadas pela ação do tempo, covas rasas com corpos e ossadas à mostra, restos de mortalhas, caixões e corpos abandonados ao relento, coveiros trabalhando sem equipamentos de proteção e a circulação livre de animais e pessoas são apenas algumas das irregularidades ambientais e sanitárias encontradas no maior cemitério público de Maceió, o São José, que fica no bairro do Trapiche.

Considerado um ambiente propício à contaminação, devido à falta de critérios no manejo dos corpos enterrados, e diante da ausência de cuidados com o espaço, o cemitério São José, que fica localizado em uma área central da capital alagoana, com a presença de prédios residências e comerciais nos arredores, coloca em risco à saúde da população e do meio ambiente.


Os indícios da contaminação são visíveis aos olhos menos atentos e constatados por estudos a exemplo da pesquisa "Avaliação da Contaminação das Águas Subterrâneas por Atividade Cemiterial na Cidade de Maceió", elaborada pela pesquisadora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Florilda Vieira da Silva, que localizou a presença de necrochorume, substância tóxica produzida pela decomposição dos corpos, no lençol freático do cemitério.

"A pesquisa localizou as bactérias ao analisar a água dos poços do cemitério. Os indícios são fortes e já esperados devido ao procedimento de enterramento e inumação que é adotado no São José. Como os corpos são colocados direto na terra, era previsível que o necrochorume se espalhasse. Ainda mais porque a região do Trapiche possui lençóis freáticos muito próximo da superfície", relata a
pesquisadora que é mestre em Recursos Hídricos e Saneamento pela Ufal.

Mortalhas, restos de ossadas e caixão abandonados junto ao lixo que fica dentro do cemitério (Foto: Waldson Costa/G1)Mortalhas, restos de ossadas e caixão abandonados junto ao lixo que fica dentro do cemitério
Com um estudo focado na análise das substâncias localizadas na água, Florilda Vieira expõe que outros indícios apontam a presença do necrochorume no ambiente.

“É recomendável que as pessoas que moram próximo ao cemitério não façam uso de águas de poços. E que as pessoas que trabalham e frequentam o lugar tomem cuidado ao usar o líquido retirado dos poços que estão espalhados pelo local. Pois a contaminação é real. E, dependendo da situação, não está só na água ou na terra, mas também no ar e nas paredes dos túmulos”, completa a pesquisadora.

Diante da constatação da contaminação ambiental e do risco sanitário, o médico infectologista e professor da Universidade de Ciências da Saúde (Uncisal), José Maria Constant, explica que o processo de decomposição dos corpos é promovido por bactérias que já existem no ser humano e que se proliferam.
Água dos poços do cemitério São José apresentam indicíos de necrochorume (Foto: Waldson Costa/G1)
Água dos poços do cemitério São José apresenta
indício de necrochorume.



O infectologista explicou que os microorganismos liberados durante o processo de apodrecimento dos corpos pode transmitir doenças por meio da ingestão ou contato com água contaminada pelo necrochorume. É assim que muitas pessoas podem acabar sendo vítimas de enfermidades.

“À medida que não existe sistema de defesa funcionando e o corpo se decompõe, as bactérias são incorporadas ao ambiente vizinho”, informou.

Para o médico, o maior risco para saúde pública na região é, como constata o trabalho de mestrado da pesquisadora Florilda Vieira, a contaminação do lençol freático. “Se a gente considera que nessa região onde fica o cemitério o lençol freático é pouco profundo, o necrochorume contamina com facilidade”, alerta.

Segundo o especialista, a proliferação das bactérias na água pode trazer doenças diversas. “Não podemos nem calcular a quantidade de doenças que a água contaminada pode transmitir”, acrescenta José Constant.


Com a superlotação e a falta conservação, túmulos violados é uma contante no cemitério  (Foto: Waldson Costa/G1)
Com a superlotação e a falta de conservação, túmulos violados são uma constante no cemitério. 

Fonte: G1

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