Morte de menino por escorpião expõe isolamento de ribeirinhos.

À direita, o menino Francenildo (de boné), que morreu após picada de escorpião. (Foto: Marcelo Salazar/ISA)
4 de ABRIL de 2013 - Um menino de 13 anos picado por um escorpião numa reserva extrativista em Altamira, no oeste do Pará, morreu após passar ao menos sete horas sem atendimento médico. Minutos antes do acidente, um irmão do garoto havia sido picado por uma cobra, mas foi resgatado de helicóptero 22 horas depois e sobreviveu.
O caso ocorreu na última quinta-feira na Reserva Extrativista Riozinho do Anfrísio, onde três Unidades Básicas de Saúde (UBS) foram construídas nos últimos dois anos. As unidades, porém, não estão funcionando por falta de equipamentos e profissionais.
Responsável pela operação das UBS, a prefeitura de Altamira – município onde a hidrelétrica de Belo Monte está sendo erguida – diz que não consegue recrutar técnicos para as unidades porque o consórcio construtor da usina oferece salários até duas vezes maiores para os profissionais.
Segundo a procuradora do Ministério Público Federal (MPF) em Altamira, Thais Santi, a morte do menino e a demora para o resgate de seu irmão ilustram ''a ausência de prestação de serviços públicos'' às cerca de 2 mil pessoas que vivem em comunidades ribeirinhas na Terra do Meio, região cercada por Terras Indígenas e com área equivalente a um terço do Estado de São Paulo.

Nota do Ministério

Em nota, o Ministério da Saúde disse que há 44 equipes do programa Saúde da Família para atender a região do Xingu, que engloba 11 municípios (incluindo a Terra do Meio) e 374,5 mil habitantes.
O ministério diz que, em 2012, repassou ao município de Altamira R$ 9,4 milhões para custear ações em saúde.
A secretaria de Saúde do Pará, por sua vez, afirmou em nota que ''a instalação de hospitais e Unidades Básicas de Saúde, assim como a frequência de agentes comunitários de saúde nessas áreas, é de responsabilidade da gestão municipal''.
Coordenador do ISA em Altamira, Marcelo Salazar defende a criação de uma estrutura dentro do Ministério da Saúde para as comunidades extrativistas do país, a exemplo do que ocorreu com os indígenas. ''Enquanto de um lado do rio os índios têm atendimento, ainda que bastante falho, do outro os ribeirinhos não têm nada'', afirma.
Após receber alta, Valdeci e o irmão Lindomar iniciaram na quarta-feira a longa viagem de barco para regressar à comunidade.
Na bagagem, a pedido da mãe, levaram velas compradas na cidade para a missa de sétimo dia do irmão Francenildo, marcada para esta sexta-feira. Eles temiam não chegar a tempo.

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