Gravidez precoce aumenta no Zaire.


Fotografia: Adolfo Dumbo|Mbanza Congo


O Hospital Central do Zaire atendeu, de Janeiro a Agosto deste ano, 450 adolescentes grávidas. As estatísticas apontam 250 casos em Mbanza Congo e 200 no Soyo de meninas com idades entre os 14 e os 16 anos. O aumento do número de casos de gravidez precoce preocupa a sociedade naquela região.



27 de AGOSTO de 2015 - Em declarações ao Jornal de Angola, o Bispo da Diocese de Mbanza Congo, Dom Vicente Carlos Kiaziku, enfatizou as consequências físicas, sociais, psicológicas e familiares deste fenómeno.
O clérigo defendeu o diálogo permanente e o aconselhamento dos jovens e adolescentes por parte dos pais e encarregados de educação, mas também das igrejas, autoridades tradicionais e instituições de ensino.
A sexualidade e a concepção devem acontecer em idade própria, já que a gravidez e o casamento precoces, cada vez mais frequentes, podem resultar em “situações catastróficas” no futuro.
Dom Vicente Carlos Kiaziku referiu que, como um mal nunca vem só, situações de adolescentes grávidas são frequentes nas escolas, facto confirmado pelo director da escola do I ciclo do ensino secundário Doutor António Agostinho Neto, em Mbanza Congo.
Manuel Gomes Panzo disse ao Jornal de Angola que, em situações do género, as alunas são transferidas para o período nocturno, mas muitas adolescentes nessa situação acabam por abandonar os estudos. “Aconselhamos as adolescentes a formarem-se antes de serem mães”, disse o director da escola, que apontou como causas da gravidez precoce o excesso de liberdade dado pelos pais e encarregados de educação e “alguma irresponsabilidade” por parte das raparigas e dos rapazes.

Desamparo familiar

Outro factor que concorre para o problema é a desestruturação familiar. Mesmo sem haver separação dos cônjuges, os pais estão cada vez mais afastados dos filhos, considera a médica cubana Marta Ibanys.
A especialista de Medicina Geral e Familiar do Hospital Central do Zaire referiu à reportagem do Jornal de Angola que as adolescentes não têm a quem dar satisfações da sua rotina diária e, quando ficam grávidas, passam por riscos de vida no acto de parto.
Para Marta Ibanys, toda a gravidez abaixo dos 18 anos é prematura e pode causar danos de natureza fisiológica, psíquica e social. Essas situações aceleram os casos de anemia, baixo peso do bebé ao nascer, pressão alta durante a gravidez, sistema emocional descontrolado e dificuldades no trabalho de parto normal, o que leva a um aumento do número de cesarianas.
Os médicos angolanos e cubanos interpelados sobre o tema foram unânimes em dizer que têm encontrado na cesariana a tábua de salvação de centenas de adolescentes em risco de vida nos partos.
“O organismo da menina não está completamente formado para suportar uma gravidez durante nove meses e de seguida passar à maternidade”, disse a médica.
Junta-se a isso o sistema emocional, que fica muito debilitado, enquanto grávida. Os pais, além do afastamento dos filhos, enfrentam dificuldades para conversar sobre sexualidade com as filhas dessa faixa etária, disse Marta Ibanys.
Isso dá-se devido à deficiente formação moral que tiveram. Diante dessa realidade, o número de pais e mães adolescentes cresce na província. A gravidez na adolescência no Zaire é mais frequente nas comunidades rurais, mas também é frequente nas cidades.

Bispo preocupado

Dom Vicente Carlos Kiaziku disse ao Jornal de Angola que, nas visitas pastorais, tem-se deparado com um número elevado de adolescentes grávidas e adolescentes com bebés às costas.
“Fico muito triste quando vejo mães adolescentes, sem responsabilidade e maturidade, a cuidar de um bebé”, lamentou.
O bispo apelou aos psicólogos e sociólogos para que sejam feitos estudos aprofundados sobre este problema, e aos pais para reforçarem a atenção aos filhos adolescentes.
Dom Carlos Kiaziku citou alguns exemplos pontuais como as consequências nefastas durante a gravidez de adolescentes.
A fuga à paternidade e a falta de assistência alimentar são denominadores comuns nesses casos.
O bispo, que citou a perda de valores morais e culturais entre as causas da ocorrência de casos de gravidez precoce, disse que tem orientado os padres de todas as paróquias da região a conversarem com os fiéis, sobretudo com as mães adolescentes, sobre a dimensão do problema no quadro da família e da sociedade.
Além da falta de condições financeiras, o bispo apontou a ausência de diálogo e a pouca atenção no processo de educação dos menores. “Eles não conversam com os filhos, que acabam por aprender muitas coisas nos programas de televisão e redes sociais impróprias para a idade que apresentam”, disse.
A fuga à paternidade por parte dos jovens foi outro aspecto mencionado pelo prelado católico. “Em muitas famílias, os bebés acabam por considerar a mãe como irmã, porque os avós é que assumem a paternidade”, referiu Dom Vicente Carlos Kiaziku que aconselhou a população a pautar-se por uma conduta de respeito às autoridades e que, pelo menos, respeitem as normas tradicionais”.

Consequências à vista

Outro aspecto inquietante a­pontado pelo Bispo da Diocese de Mbanza Congo foi o das mães adolescentes solteiras com bebés ao colo e às costas, a comercializarem produtos na via pública, colocando em risco a vida dos filhos e delas próprias.
Dom Vicente reprovou certos comportamentos de jovens que, por ignorância, cometem desacatos contra as adolescentes grávidas, causando-lhes outras complicações morais. “Muitas delas acabam por abandonar os estudos, para optar pela via pública, onde vendem produtos”, disse o bispo.
A Diocese de Mbanza Congo leva a efeito acções de educação religiosa e evangelização nas comunidades. “Nascemos, crescemos, temos de estudar para garantir o futuro e contribuir no desenvolvimento da sociedade”, disse o bispo, para quem um jovem desprovido de ocupação profissional tem o futuro adiado. Dom Carlos Kiaziku criticou o comportamento de alguns professores que abusam sexualmente das alunas em troca de notas e pediu sanções severas para os prevaricadores. “As adolescentes mais novas devem olhar para as adolescentes que já caíram no erro, para saber como vivem, o sofrimento que enfrentam para não voltarem a cometer o mesmo erro”, vincou Dom Carlos Kiaziku.


Kayila Silvina e João Mavinga | Mbanza Congo


Retirado do Jornal de Angola.

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