Neyde e Cesar se conheceram em lar de idosos e decidiram se casar (Foto: Dantas Jr.)
15 de MAIO 2018 - Começou de forma despretensiosa o namoro entre Neyde Martins Alves e Joaquim Cesar Vieira da Silva. Há sete meses, ela não imaginava que, aos 76 anos, subiria ao altar pela 1ª vez na vida no último sábado (12). Divorciado, Cesar, aos 61 anos, tampouco achava que passar a viver num lar de idosos mudaria sua vida completamente.
Para os dois, os últimos anos não foram fáceis. Mesmo contando com o carinho de amigos e funcionários no Lar de Sarepta, no Catumbi, Zona Norte do Rio, a verdade é que há pelo menos nove anos Neyde vivia só.
"Não tem mais ninguém, sou sozinha. Por isso me apeguei. Ele [Cesar] é muito carinhoso e diz que até a minha voz é carinhosa", contou a idosa.
Neyde se sentia só, embora fosse cuidada por funcionários
e amigos no Lar de Sarepta
(Foto: Dantas Jr.)
Engenheiro civil aposentado, Cesar também viveu dias amargos antes de chegar à casa de repouso. Ao contrário de Neyde, ele sempre contou com o apoio incondicional da família. Mas o alcoolismo e a depressão, além de seguidos episódios de agressividade, acabaram por afastá-lo dos parentes.
Mais retraído e de rosto sisudo, o idoso só se desmancha ao falar de Neyde. Ele tem alguns lapsos de memória e não sabe muito bem como ou quando o casamento foi definido. De poucas palavras, o senhor revela aos poucos pequenas vontades e sonhos de uma vida a dois.
Idosos se casam em casa de repouso no Rio (Foto: Dantas Jr.)
Depois do casório, conforme contou ao G1, Cesar pretende levar Neyde para Búzios, na Região dos Lagos, e viver numa casa alugada. Fã de pescaria, além do hobby o idoso também pretende voltar a estudar. Dessa vez, disse que quer se formar advogado.
"A vinda do meu pai aqui foi uma verdadeira bênção porque ele tinha sérios problemas com depressão, com alcoolismo, e esse lugar mudou a vida dele completamente. Ele passa por todo um trabalho psicológico, de ajuda, e um dos fatores que mais o ajudaram a sair da depressão foi esse amor incrível que ele conquistou junto com a Dona Neyde", explicou Mariana Kiss, filha de Cesar.
Idosos se casam após se conhecerem em casa de repouso (Foto: Dantas Jr. )
Ao contrário de Cesar, Neyde lembra bem como a "paquera" começou. Segundo ela e funcionárias da casa que testemunharam o nascimento da relação, o namoro surgiu enquanto os dois, juntos, assistiam à televisão.
A idosa é taxativa: foi dela a primeira "investida". Assim que os laços foram se estreitando, todas as vezes que Cesar passava pela janela do quarto de Neyde, ela mandava "beijinhos". A decisão de casar, no entanto, partiu dele.
Preparativos e cerimônia
O casamento estava marcado para as 16h. Uma hora antes, já durante os preparativos, Neyde garantiu que não estava ansiosa. "É meu mesmo", brincou ao se referir ao então futuro marido.
Neyde é maquiada para o casamento (Foto: Dantas Jr. )
Os detalhes para a noiva foram pensados minuciosamente: colar e arranjo de cabeça ornados com pérolas, roupa branca e sandálias reservadas especialmente para o dia. Além disso, fotos e entrevista. Neyde respondia a todos que a olhavam e diziam que ela estava linda: "São seus olhos".
Gravata borboleta e camisa social compuseram a vestimenta
de Cesar para o casamento (Foto: Dantas Jr.)
A dois quartos de distância, Cesar estava mais impaciente. Mantido separado da noiva por razões óbvias, o engenheiro também era preparado para o cerimonial. "Ele odeia calça branca", revelou Neyde. Camisa social e gravata borboleta foi a vestimenta escolhida para que ele descesse os cerca de 20 degraus da escada rumo ao altar.
Ao longo do pátio foi estendido um tapete vermelho que chegava até um altar improvisado. O espaço foi arrumado com a mesa de doces de um lado e cadeiras para os convidados, de outro. Um ligeiro atraso na cerimônia foi driblado pela música "Eu Te Darei o Céu", de Roberto Carlos.
Casal de idosos se casa após se conhecer em casa de
repouso (Foto: Nicolás Satriano/G1)
Refrigerantes e comidas salgadas foram servidos antes da solenidade. Doces seriam permitidos depois da celebração, mas com parcimônia porque muitos idosos sofrem de diabetes.
Lar de Sarepta
Toda a organização ficou por conta de voluntários e colaboradores do Lar de Sarepta. A instituição não tem fins lucrativos e vive da contribuição de parentes dos idosos que lá vivem. Ao todo, a casa abriga 41 pessoas, 27 mulheres e 14 homens.
Administradora do espaço, Valdimélia Silva Chaves diz que alguns dos itens que mais fazem falta aos idosos no lar são fraldas, leite e alimentos não perecíveis. Mas também há a questão estrutural do imóvel, que precisa ser revitalizado.
Por exemplo, na parede externa do prédio de três andares faltam reboco e pintura. Para a celebração, além das voluntárias do grupo Ação do Bem Querer, participaram também o fotógrafo Dantas Jr. e o maquiador Bueno.
RIO DE JANEIRO
Por Nicolás Satriano, G1 Rio