Dae Sung Robson desceu com sua mãe e os doces
na mão — Foto: Arquivo Pessoal
12 de MAIO 2019 - Uma noite de festa e muita emoção. Assim foi a formatura do jovem Dae Sung Robson Simioni, de 20 anos, no curso de tecnólogo em eletrotécnica no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), em Mossoró. O estudante fez uma homenagem à mãe que sustenta a família vendendo doces. Para demonstrar a gratidão, desceu as escadas ao lado dela ao som de "Tocando em Frente", música de Renato Teixeira e Almir Sater, e com uma cesta de doces na mão, em referência ao trabalho da mãe. A imagem comoveu a todos que estavam presentes na celebração e viralizou na internet.
Sandra Simioni, mãe de Dae Sung Robson, tem 57 anos e trabalha com o marido, Márcio Costa, de 58, vendendo doces na Praça da Convivência, em Mossoró, onde se tornou uma figura conhecida dos clientes. Essa é hoje a única fonte de renda da família.
Sandra Simioni e o filho Dae Sung Robson — Foto: Arquivo pessoal
"Minha mãe é minha vida. Ela é minha inspiração e meu porto seguro. Me fez querer ser alguém na vida, me deu motivos para isso, me fez seguir em frente. Eu ficava bravo quando ela pedia para eu não assistir televisão o dia todo e me pedia para estudar. Hoje vejo que, ali, ela estava cuidando do meu futuro, mesmo que eu não entendesse muito bem. Se cheguei até aqui, se conquistei um diploma no IFRN e o ingresso num curso numa faculdade federal, foi por causa dela. Sei que sempre que precisar, ela estará comigo. Ela é minha heroína", declarou Dae Sung Robson.
Realidade não tão doce
Em 2015, Sandra Simioni perdeu o emprego que tinha como auxiliar de serviços gerais há 10 anos. Desde então, a situação, que nunca havia sido fácil, ficou mais complicada na família. Ela, assim, começou a vender pães caseiros pela vizinhança, mas durou pouco. A partir daí, passou a vender doces, do que se sustenta até hoje.
Os finais de semana são os dias de mais movimento e também os que exigem mais trabalho. "Nos dias normais fico até às 2h da manhã em média. Nos finais de semana, só volto para casa às 6h", contou Sandra, que pega carona com amigos para ir até o seu ponto de trabalho.
Praça da Convivência é o local onde Sandra e Márcio
fazem vendas em Mossoró — Foto: Canindé Soares
Ela faz a venda de um lado da Praça da Convivência e o marido do outro. E o trabalho exige um certo esforço físico, que tem um peso maior para uma pessoa de 57 anos. Sandra Simioni vai de mesa em mesa onde as pessoas estão sentadas e oferece os doces. "Se eu ficar sentada, eu não vendo nada", explicou.
O dinheiro conseguido nas vendas nem sempre é suficiente, porque a presença dos clientes no local - que é a céu aberto - depende, por exemplo, de dias sem chuva. "Em datas como carnaval, por exemplo, também ficamos sem vender nada, porque a cidade fica vazia e não temos como ir para cidades vizinhas. Nesses momentos passamos dificuldade", explicou Sandra.
Tocando em frente
Formado no IFRN, Dae Sung Robson agora cursa Ciência e Tecnologia na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) e projeta ganhar uma bolsa ou fazer um estágio para ajudar nas despesas de casa com os pais. "Eles são pessoas de idade e a venda tem seus altos e baixos. Às vezes, acabamos não tendo o que comer e sem dinheiro em casa", disse. Quando estudava no IFRN, ele contribuía com uma ajuda de custo recebida.
Enquanto não pode auxiliar financeiramente, ele batalha ao lado dos pais da forma que dá, como dividindo as atividades domésticas. "Tem dias que eu chego em casa do trabalho muito tarde e a casa está toda limpa, com tudo organizado por ele. Ele me recebe e me manda descansar", conta a mãe Sandra. "É porque parece que não, mas os chocolates são pesados e cansa muito ficar segurando aquele peso. Tenho muitas dores de coluna", relatou.
Dae Sung Robson - que tem esse nome pelo fato da mãe ter sido acolhida por uma comunidade sul coreana quando criança, onde também conheceu o pai dele - conta que sofre por saber que às vezes a mãe não é bem recebida nas vendas. "Já teve muitos casos dela ser maltratada", diz. Por isso, tenta, assim como a música que escolheu para seu dia de festa, seguir "Tocando em frente" por um futuro melhor. "Eu procurei uma música que falasse um pouco da minha família. E a letra diz muito sobre isso. 'Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais'. É um história de luta", destacou.
RIO GRANDE DO NORTE
Por Leonardo Erys, G1 RN