Bruna estava próximo de casa quando foi atacada pelo
homem. — Foto: Arquivo pessoal
22 de JUNHO 2019 - Uma das vítimas atacadas por um homem que vem jogando um líquido semelhante a ácido em pessoas pelas ruas de Porto Alegre teve queimaduras de segundo grau no rosto e em partes do braço. Bruna Machado Maia, de 27 anos, caminhava perto de casa, na Rua Santa Flora, no bairro Nonoai, na noite de quarta-feira (19), quando ele se aproximou numa bicicleta.
"Quando eu olhei meu casaco eu me desesperei, já achei que tinha caído meu rosto, já tinha me queimado, feito buraco", lembra.
Num primeiro momento, a mulher pensou que estava sendo assaltada.
"Esperou eu passar para se aproximar. Ele estava de bicicleta preta. Ele era bem branco, magro, sem barba, sem bigode, sem nada. Não vi cabelo por causa do capuz. Ele estava com um moletom todo branco, calça escura e sapato escuro".
"Ele falou 'olha a água'. No reflexo, eu botei a mão e consegui proteger só meu olho, mas no rosto em si, pegou".
Os casos estão sendo investigados pela 13ª Delegacia de Polícia Civil de Porto Alegre. Cinco ocorrências por lesão corporal foram registradas por quatro mulheres e um homem até o fim da tarde desta sexta-feira (21).
O delegado Luciano Coelho acredita que a substância é um ácido. Além do Nonoai, os ataques também aconteceram no Aberta dos Morros, dois bairros da Zona Sul da cidade.
De acordo com informações da Polícia Civil, duas pessoas já foram ouvidas e outras três devem prestar depoimento na segunda-feira (24). O delegado busca imagens de câmeras de segurança para identificar o suspeito.
Uma das vítimas relatou que o homem estava em um carro e que havia uma segunda pessoa no veículo. A polícia ainda não confirmou essa informação.
"Não temos identificação do veículo nem do indivíduo, mas com certeza é a mesma pessoa [que joga o líquido]", relata o delegado.
"Achei que ele estava me molhando de sacanagem, coisa de moleque. Mas eu vi que, dois segundos depois, aquilo começou a queimar e eu saí gritando e correndo, pedindo socorro", acrescenta Bruna.
Com a ajuda de uma vizinha, que buscou na internet orientações sobre como proceder em situações de queimadura, a dona de casa iniciou os primeiros cuidados.
A mulher foi atendida no por uma médica no Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul, depois de tentar por uma hora e meia que um carro de aplicativo a levasse até o posto.
"Não queria ir porque era zona de risco. Quando eu cheguei lá, passei na frente de todo mundo, eles estavam com medo, não sabiam se eu tinha ficado cega, mas a médica disse: 'não se preocupa, vai secar, vai cair e vir uma pele nova', e meu deu uma pomada. Quanto mais eu falo, mais me dói o rosto porque força o músculo".
Na delegacia, ao fazer a ocorrência, ela descobriu que o homem havia feito outras vítimas.
"Eu não queria falar com ninguém, não queria ver ninguém, não queria que ninguém visse meu rosto, estava com medo que me olhassem com outros olhos. Mulher, né, isso afeta nossa vaidade, nossa beleza, a nossa vontade de se sentir bonita. Meu marido conversou comigo, me deu palavras de conforto", conta.
Cronologia dos ataques
Quarta-feira (19): o suspeito estava em uma bicicleta
. 23h10, na Rua Santa Flora, no bairro Nonoai
Sexta-feira (21): segundo as vítimas, suspeito estava em um HB20 branco
. 6h30, na Rua Francisca Prezzi Bolognesi, no bairro Aberta dos Morros
. 6h40, na Rua Francisca Prezzi Bolognesi, no bairro Aberta dos Morros
. 7h20, na Rua Santa Flora, no bairro Nonoai
. 7h30, na Rua Santa Flora, no bairro Nonoai
As roupas das vítimas foram encaminhadas para exames. De acordo com o delegado, o Instituto Geral de Perícias vai analisar o líquido usado pelo suspeito contra as vítimas.
'Fiquei com muita dor e desnorteada'
Somente na manhã de sexta-feira (21), três mulheres e um jovem procuraram a polícia. Entre elas, Tássia Steinmetz, 33 anos, atacada por volta das 7h20. Ao G1, ela disse que não conseguiu ver o rosto do homem que jogou o líquido.
"Estava indo me exercitar e estava com fones de ouvido. Acho que ele me atacou pelas costas, então não vi nada. Na hora não entendi o que aconteceu. Fiquei com muita dor e desnorteada", relata.
'Fiquei apavorada'
Outra vítima atacada na manhã de sexta é Gladis Nievinski, de 48 anos. Ela conta que ia ao trabalho, a pé, quando percebeu que um carro branco havia estacionado, no lado oposto da calçada. "Pensei 'alguém chegou de Uber'. Uns 50 metros depois, percebi que esse carro veio para o meu lado", relata.
"Pensei 'não vou olhar, ele vai falar uma gracinha'. Nisso, senti algo no rosto. Pensei 'sacana, cuspiu em mim'. Passei a mão e começou a arder", contou. Seu pescoço e uma parte do rosto foram atingidos pelo líquido, transparente, sem cheiro e com aspecto pegajoso, conforme ela descreve. A substância pegou também em seu casaco. "Ficou estraçalhado", comenta.
Gladis não conseguiu identificar o carro, mas diz que viu somente uma pessoa. O veículo saiu sem acelerar. Ela, então, procurou atendimento em um posto de saúde. "Soube que não era o primeiro caso. O médico disse que provavelmente era ácido, ou algo abrasivo, soda base", conta.
O médico limpou a área e receitou medicamentos para dor e uma pomada para a pele. Gladis teve queimadura de terceiro grau, e vai voltar na próxima semana para avaliar o ferimento. "Sinto ardor. Não tive como trabalhar", lamenta.
A notícia se espalhou pelo bairro e vizinhos passaram a pendurar cartazes nos postes, alertando do perigo. "Fiquei apavorada, mas agora estou um pouco mais calma", diz.
Gladis já sabia do primeiro caso, registrado na quarta, mas garante que jamais imaginou que seria vítima do ataque. "A gente sempre tem medo da violência, enfim, tu imagina de tudo, mas nunca contigo", lamenta.
Vítima sofreu queimaduras em parte do rosto e pescoço
'Por sorte estava com casaco grosso'
Também na sexta-feira, um adolescente de 17 anos foi surpreendido por um homem, também em um carro branco, que lhe arremessou um líquido. Leonardo Fassina Klock conta que, inicialmente, achou que seria assaltado, como pensaram outras vítimas. Ele caminhava até um ponto de ônibus, onde aguardaria um coletivo para ir do bairro Aberta dos Morros ao Centro da cidade.
"Veio na minha direção, estava com farol mais ou menos ligado e acelerou. Primeira coisa que pensei: 'vou ser assaltado'. Mas continuei caminhando para não mostrar medo. Quando ele chegou no meu lado, deu uma freada e estava com o vidro aberto já, era um rapaz só. E ele me arremessou um líquido, parecia um desodorante ou uma pistolinha de água. Quando arremessou, começou a queimar. Meu braço começou a arder e meu rosto meio que ardia. Pensei que era spray de pimenta", lembra.
"Ele não disse nada, simplesmente abriu a janela e jogou em mim. Uma situação muito estranha, eu fiquei sem entender."
Leonardo conta que saiu correndo após ser atingido, e chamou alguns vizinhos, mas num primeiro momento não foi atendido. "Gritei desesperado, como se alguma coisa pudesse acontecer comigo", diz.
Até que conseguiu ajuda de um vizinho, que foi com ele até um ponto onde conseguiu entrar em uma lotação e seguir até o Centro. No caminho, ligou para o pai e contou o que havia acontecido. "Meu casaco estava todo queimado, tinha respingado na minha mochila (...) Fiquei bastante apavorado. Se tivesse pegado no meu rosto, aconteceriam coisas piores comigo. Por sorte estava com casaco bem grosso", acrescenta.
Leonardo mostra agasalho furado pelo líquido que foi
Leonardo conta que casaco grosso ajudou a evitar contato
22 de JUNHO 2019 - Uma das vítimas atacadas por um homem que vem jogando um líquido semelhante a ácido em pessoas pelas ruas de Porto Alegre teve queimaduras de segundo grau no rosto e em partes do braço. Bruna Machado Maia, de 27 anos, caminhava perto de casa, na Rua Santa Flora, no bairro Nonoai, na noite de quarta-feira (19), quando ele se aproximou numa bicicleta.
"Quando eu olhei meu casaco eu me desesperei, já achei que tinha caído meu rosto, já tinha me queimado, feito buraco", lembra.
Num primeiro momento, a mulher pensou que estava sendo assaltada.
"Esperou eu passar para se aproximar. Ele estava de bicicleta preta. Ele era bem branco, magro, sem barba, sem bigode, sem nada. Não vi cabelo por causa do capuz. Ele estava com um moletom todo branco, calça escura e sapato escuro".
"Ele falou 'olha a água'. No reflexo, eu botei a mão e consegui proteger só meu olho, mas no rosto em si, pegou".
Os casos estão sendo investigados pela 13ª Delegacia de Polícia Civil de Porto Alegre. Cinco ocorrências por lesão corporal foram registradas por quatro mulheres e um homem até o fim da tarde desta sexta-feira (21).
O delegado Luciano Coelho acredita que a substância é um ácido. Além do Nonoai, os ataques também aconteceram no Aberta dos Morros, dois bairros da Zona Sul da cidade.
De acordo com informações da Polícia Civil, duas pessoas já foram ouvidas e outras três devem prestar depoimento na segunda-feira (24). O delegado busca imagens de câmeras de segurança para identificar o suspeito.
Uma das vítimas relatou que o homem estava em um carro e que havia uma segunda pessoa no veículo. A polícia ainda não confirmou essa informação.
"Não temos identificação do veículo nem do indivíduo, mas com certeza é a mesma pessoa [que joga o líquido]", relata o delegado.
"Achei que ele estava me molhando de sacanagem, coisa de moleque. Mas eu vi que, dois segundos depois, aquilo começou a queimar e eu saí gritando e correndo, pedindo socorro", acrescenta Bruna.
Com a ajuda de uma vizinha, que buscou na internet orientações sobre como proceder em situações de queimadura, a dona de casa iniciou os primeiros cuidados.
A mulher foi atendida no por uma médica no Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul, depois de tentar por uma hora e meia que um carro de aplicativo a levasse até o posto.
"Não queria ir porque era zona de risco. Quando eu cheguei lá, passei na frente de todo mundo, eles estavam com medo, não sabiam se eu tinha ficado cega, mas a médica disse: 'não se preocupa, vai secar, vai cair e vir uma pele nova', e meu deu uma pomada. Quanto mais eu falo, mais me dói o rosto porque força o músculo".
Na delegacia, ao fazer a ocorrência, ela descobriu que o homem havia feito outras vítimas.
"Eu não queria falar com ninguém, não queria ver ninguém, não queria que ninguém visse meu rosto, estava com medo que me olhassem com outros olhos. Mulher, né, isso afeta nossa vaidade, nossa beleza, a nossa vontade de se sentir bonita. Meu marido conversou comigo, me deu palavras de conforto", conta.
Cronologia dos ataques
Quarta-feira (19): o suspeito estava em uma bicicleta
. 23h10, na Rua Santa Flora, no bairro Nonoai
Sexta-feira (21): segundo as vítimas, suspeito estava em um HB20 branco
. 6h30, na Rua Francisca Prezzi Bolognesi, no bairro Aberta dos Morros
. 6h40, na Rua Francisca Prezzi Bolognesi, no bairro Aberta dos Morros
. 7h20, na Rua Santa Flora, no bairro Nonoai
. 7h30, na Rua Santa Flora, no bairro Nonoai
As roupas das vítimas foram encaminhadas para exames. De acordo com o delegado, o Instituto Geral de Perícias vai analisar o líquido usado pelo suspeito contra as vítimas.
'Fiquei com muita dor e desnorteada'
Somente na manhã de sexta-feira (21), três mulheres e um jovem procuraram a polícia. Entre elas, Tássia Steinmetz, 33 anos, atacada por volta das 7h20. Ao G1, ela disse que não conseguiu ver o rosto do homem que jogou o líquido.
"Estava indo me exercitar e estava com fones de ouvido. Acho que ele me atacou pelas costas, então não vi nada. Na hora não entendi o que aconteceu. Fiquei com muita dor e desnorteada", relata.
Tássia não conseguiu ver o rosto do agressor. — Foto: Arquivo pessoal
Outra vítima atacada na manhã de sexta é Gladis Nievinski, de 48 anos. Ela conta que ia ao trabalho, a pé, quando percebeu que um carro branco havia estacionado, no lado oposto da calçada. "Pensei 'alguém chegou de Uber'. Uns 50 metros depois, percebi que esse carro veio para o meu lado", relata.
"Pensei 'não vou olhar, ele vai falar uma gracinha'. Nisso, senti algo no rosto. Pensei 'sacana, cuspiu em mim'. Passei a mão e começou a arder", contou. Seu pescoço e uma parte do rosto foram atingidos pelo líquido, transparente, sem cheiro e com aspecto pegajoso, conforme ela descreve. A substância pegou também em seu casaco. "Ficou estraçalhado", comenta.
Gladis não conseguiu identificar o carro, mas diz que viu somente uma pessoa. O veículo saiu sem acelerar. Ela, então, procurou atendimento em um posto de saúde. "Soube que não era o primeiro caso. O médico disse que provavelmente era ácido, ou algo abrasivo, soda base", conta.
O médico limpou a área e receitou medicamentos para dor e uma pomada para a pele. Gladis teve queimadura de terceiro grau, e vai voltar na próxima semana para avaliar o ferimento. "Sinto ardor. Não tive como trabalhar", lamenta.
A notícia se espalhou pelo bairro e vizinhos passaram a pendurar cartazes nos postes, alertando do perigo. "Fiquei apavorada, mas agora estou um pouco mais calma", diz.
Gladis já sabia do primeiro caso, registrado na quarta, mas garante que jamais imaginou que seria vítima do ataque. "A gente sempre tem medo da violência, enfim, tu imagina de tudo, mas nunca contigo", lamenta.
Vítima sofreu queimaduras em parte do rosto e pescoço
após ataque com líquido corrosivo em Porto
Alegre — Foto: Arquivo pessoal
Também na sexta-feira, um adolescente de 17 anos foi surpreendido por um homem, também em um carro branco, que lhe arremessou um líquido. Leonardo Fassina Klock conta que, inicialmente, achou que seria assaltado, como pensaram outras vítimas. Ele caminhava até um ponto de ônibus, onde aguardaria um coletivo para ir do bairro Aberta dos Morros ao Centro da cidade.
"Veio na minha direção, estava com farol mais ou menos ligado e acelerou. Primeira coisa que pensei: 'vou ser assaltado'. Mas continuei caminhando para não mostrar medo. Quando ele chegou no meu lado, deu uma freada e estava com o vidro aberto já, era um rapaz só. E ele me arremessou um líquido, parecia um desodorante ou uma pistolinha de água. Quando arremessou, começou a queimar. Meu braço começou a arder e meu rosto meio que ardia. Pensei que era spray de pimenta", lembra.
"Ele não disse nada, simplesmente abriu a janela e jogou em mim. Uma situação muito estranha, eu fiquei sem entender."
Leonardo conta que saiu correndo após ser atingido, e chamou alguns vizinhos, mas num primeiro momento não foi atendido. "Gritei desesperado, como se alguma coisa pudesse acontecer comigo", diz.
Até que conseguiu ajuda de um vizinho, que foi com ele até um ponto onde conseguiu entrar em uma lotação e seguir até o Centro. No caminho, ligou para o pai e contou o que havia acontecido. "Meu casaco estava todo queimado, tinha respingado na minha mochila (...) Fiquei bastante apavorado. Se tivesse pegado no meu rosto, aconteceriam coisas piores comigo. Por sorte estava com casaco bem grosso", acrescenta.
Leonardo mostra agasalho furado pelo líquido que foi
jogado nele em Porto Alegre — Foto: Arquivo pessoal
Leonardo conta que casaco grosso ajudou a evitar contato