Adriano Pires disse em carta que não poderia conciliar o cargo
com as atividades de consultoria
05 de ABRIL 2022 - O escolhido pelo governo Jair Bolsonaro para comandar a Petrobras caiu nesta segunda-feira (4), antes mesmo de tomar posse. A desistência de Adriano Pires para o comando da petroleira, depois de avisado que não passaria no teste de governança da estatal, deixou o futuro da empresa à deriva no mercado, a pouco mais de uma semana da assembleia que votará a próxima gestão, marcada para 13 de abril. O imbróglio fez a estatal perder, nessa segunda, R$ 2,5 bilhões em valor de mercado, ignorando a alta do petróleo que beneficiou as concorrentes.
A desistência, comunicada ao Palácio do Planalto, vem depois de o Estadão revelar que o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) pediu que Pires fosse impedido de assumir o cargo enquanto não houvesse uma investigação do governo (Controladoria-Geral da União e Comissão de Ética) e da Petrobras sobre a atuação dele no setor privado. O empresário Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, também comunicou a desistência para a presidência do Conselho de Administração da estatal.
Emissários do governo Jair Bolsonaro iniciaram sondagens junto a investidores do setor de petróleo sobre novos nomes para o comando da Petrobras e do seu conselho de administração. Próximo ao senador Flavio Bolsonaro, o secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Caio Mario Paes de Andrade, voltou a ser cotado para a presidência executiva. As indicações de Adriano Pires e de Rodolfo Landim, que declinou do convite na madrugada de domingo, esbarraram em conflitos de interesse entre as suas atuações no mercado de gás e óleo e os da petrolífera brasileira.
Não adiantou a ofensiva da ala política do governo e da tropa de choque do Centrão para manter Pires à frente da petroleira, passando por cima das regras de acesso a cargos de comando da empresa depois que Pires comunicou a sua decisão pela manhã ao Planalto, antecipada pelo jornal O Globo. O principal apoio público partiu do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL). Cacique do Centrão, Lira ajudou a validar a indicação de Pires. A ofensiva não deu certo.
Na defesa de Pires, Lira ironizou as regras de governança que apontaram conflito de interesse da atuação dele via sua empresa de consultoria com contratos com petroleiras e empresas de gás. "Tem de ser arcebispo para ser diretor da Petrobras", criticou. "Hoje, eu estava comentando aqui com o ministro[GILMAR MENDE]: a pauta da imprensa, e talvez do Ministério Público, é condenar o possível presidente da Petrobras porque prestava assessoria a um grupo empresarial. Se eu sou da atividade privada, eu não posso trabalhar para nenhum grupo empresarial? Eu não posso prestar serviço? Eu não posso ter trabalhado, e isso vai me prejudicar nas minhas decisões lá na frente?", questionou Lira.
'Eu estou sem luz'
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta segunda-feira, que está "sem luz" sobre quem deve assumir o comando da Petrobras após a saída do general Joaquim Silva e Luna. Ao ser questionado pela imprensa no Rio de Janeiro se já havia uma "luz" sobre o sucessor para o comando da petroleira, Guedes se esquivou e disse: "Eu estou sem luz".
Guedes já havia dito na semana passada que a troca no comando da estatal não era problema dele - Guedes minimizou o impacto da demissão, na véspera, do presidente da Petrobras. "A Petrobras é do Ministério de Minas e Energia. Quem indica é o presidente da República junto com o ministro de Minas e Energia", afirmou. Em comunicado ao mercado, a Petrobras comunicou as desistências, e afirmou não ter recebido novas indicações.
Em carta, Pires explica desistência
Indicado para a Presidência da Petrobras, Adriano Pires, desistiu oficialmente de assumir o comando da empresa depois de o governo Bolsonaro receber informações de que o nome dele não passaria no "teste" de governança da empresa. Em carta, nessa segunda-feira, ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, ele oficializa a desistência. No documento, Pires agradece a indicação e reafirma o "compromisso de continuar nessa luta" pelo desenvolvimento do mercado de óleo e gás. Diz que não poderia conciliar o cargo com as atividades de consultoria que já desempenha, atualmente, para empresas do setor.
Como sócio fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Pires tem contratos de longo prazo com petroleiras e empresas de gás, como a Cosan. Ele teria que abrir mão dos negócios. Segundo fontes, Pires achou que daria simplesmente para passar para o filho, o que não é permitido pelas regras de governança da estatal. Com o impedimento, ele decidiu abrir mão do comando da Petrobras. Na carta ao ministro, disse que não teria como concluir esse processo em "tão pouco tempo".
Entre as razões apontadas para a queda antecipada dele e Atual presidente do clube de futebol Flamengo, Rodolfo Landim, estaria a ligação de ambos, por razões diferentes, com o empresário Carlos Suarez, visto no mercado como um dos principais beneficiados por "jabutis" na medida provisória sobre a privatização da Eletrobras.
Landim foi presidente da BR Distribuidora quando Suarez era sócio da então companhia estatal na Brasil PCH (de pequenas centrais hidrelétricas). Landim também é sócio de diversas empresas do setor de gás. Já Pires, consultor no setor de óleo e gás, teria trabalhado ativamente, e com êxito, para defender os interesses de Suarez no texto da MP sobre a estatal do setor elétrico.
Fontes ouvidas pela reportagem apontam Carlos Seabra Suarez, de 70 anos, como uma das maiores forças de lobby no Congresso no setor de óleo e gás - no qual teria sociedade em cerca de 20 empresas. Suarez também é um dos fundadores da OAS (é dele o "S" na sigla), empresa que depois de sua saída seria envolvida nas investigações da Operação Lava Jato, durante os governos do PT.
A relação entre Pires e Suarez, dizem fontes, começou há cerca de três anos, época em que o consultor teria passado a defender os interesses do empresário junto ao governo - tendo um papel na definição de um "jabuti" (termo usado para a inclusão de temas não relacionados ao projeto original) na MP da Eletrobras.
Nesse caso, a medida provisória, do deputado Elmar Nascimento (DEM-PA), ganhou um trecho que passou a obrigar a compra de energia de termoelétricas, movimento visto como forma de beneficiar empresários do setor de gás. O "jabuti" vai no movimento contrário ao do setor de energia, em busca de matrizes mais limpas.
Com o alerta da Petrobras apontado conflito de checagem, os patrocinadores da indicação de Pires no governo foram retirando o apoio. "O cara é um conflito ambulante", resumiu uma fonte do Palácio do Planalto.
05 de ABRIL 2022 - O escolhido pelo governo Jair Bolsonaro para comandar a Petrobras caiu nesta segunda-feira (4), antes mesmo de tomar posse. A desistência de Adriano Pires para o comando da petroleira, depois de avisado que não passaria no teste de governança da estatal, deixou o futuro da empresa à deriva no mercado, a pouco mais de uma semana da assembleia que votará a próxima gestão, marcada para 13 de abril. O imbróglio fez a estatal perder, nessa segunda, R$ 2,5 bilhões em valor de mercado, ignorando a alta do petróleo que beneficiou as concorrentes.
A desistência, comunicada ao Palácio do Planalto, vem depois de o Estadão revelar que o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) pediu que Pires fosse impedido de assumir o cargo enquanto não houvesse uma investigação do governo (Controladoria-Geral da União e Comissão de Ética) e da Petrobras sobre a atuação dele no setor privado. O empresário Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, também comunicou a desistência para a presidência do Conselho de Administração da estatal.
Emissários do governo Jair Bolsonaro iniciaram sondagens junto a investidores do setor de petróleo sobre novos nomes para o comando da Petrobras e do seu conselho de administração. Próximo ao senador Flavio Bolsonaro, o secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Caio Mario Paes de Andrade, voltou a ser cotado para a presidência executiva. As indicações de Adriano Pires e de Rodolfo Landim, que declinou do convite na madrugada de domingo, esbarraram em conflitos de interesse entre as suas atuações no mercado de gás e óleo e os da petrolífera brasileira.
Não adiantou a ofensiva da ala política do governo e da tropa de choque do Centrão para manter Pires à frente da petroleira, passando por cima das regras de acesso a cargos de comando da empresa depois que Pires comunicou a sua decisão pela manhã ao Planalto, antecipada pelo jornal O Globo. O principal apoio público partiu do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL). Cacique do Centrão, Lira ajudou a validar a indicação de Pires. A ofensiva não deu certo.
Na defesa de Pires, Lira ironizou as regras de governança que apontaram conflito de interesse da atuação dele via sua empresa de consultoria com contratos com petroleiras e empresas de gás. "Tem de ser arcebispo para ser diretor da Petrobras", criticou. "Hoje, eu estava comentando aqui com o ministro[GILMAR MENDE]: a pauta da imprensa, e talvez do Ministério Público, é condenar o possível presidente da Petrobras porque prestava assessoria a um grupo empresarial. Se eu sou da atividade privada, eu não posso trabalhar para nenhum grupo empresarial? Eu não posso prestar serviço? Eu não posso ter trabalhado, e isso vai me prejudicar nas minhas decisões lá na frente?", questionou Lira.
'Eu estou sem luz'
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta segunda-feira, que está "sem luz" sobre quem deve assumir o comando da Petrobras após a saída do general Joaquim Silva e Luna. Ao ser questionado pela imprensa no Rio de Janeiro se já havia uma "luz" sobre o sucessor para o comando da petroleira, Guedes se esquivou e disse: "Eu estou sem luz".
Guedes já havia dito na semana passada que a troca no comando da estatal não era problema dele - Guedes minimizou o impacto da demissão, na véspera, do presidente da Petrobras. "A Petrobras é do Ministério de Minas e Energia. Quem indica é o presidente da República junto com o ministro de Minas e Energia", afirmou. Em comunicado ao mercado, a Petrobras comunicou as desistências, e afirmou não ter recebido novas indicações.
Em carta, Pires explica desistência
Indicado para a Presidência da Petrobras, Adriano Pires, desistiu oficialmente de assumir o comando da empresa depois de o governo Bolsonaro receber informações de que o nome dele não passaria no "teste" de governança da empresa. Em carta, nessa segunda-feira, ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, ele oficializa a desistência. No documento, Pires agradece a indicação e reafirma o "compromisso de continuar nessa luta" pelo desenvolvimento do mercado de óleo e gás. Diz que não poderia conciliar o cargo com as atividades de consultoria que já desempenha, atualmente, para empresas do setor.
Como sócio fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Pires tem contratos de longo prazo com petroleiras e empresas de gás, como a Cosan. Ele teria que abrir mão dos negócios. Segundo fontes, Pires achou que daria simplesmente para passar para o filho, o que não é permitido pelas regras de governança da estatal. Com o impedimento, ele decidiu abrir mão do comando da Petrobras. Na carta ao ministro, disse que não teria como concluir esse processo em "tão pouco tempo".
Entre as razões apontadas para a queda antecipada dele e Atual presidente do clube de futebol Flamengo, Rodolfo Landim, estaria a ligação de ambos, por razões diferentes, com o empresário Carlos Suarez, visto no mercado como um dos principais beneficiados por "jabutis" na medida provisória sobre a privatização da Eletrobras.
Landim foi presidente da BR Distribuidora quando Suarez era sócio da então companhia estatal na Brasil PCH (de pequenas centrais hidrelétricas). Landim também é sócio de diversas empresas do setor de gás. Já Pires, consultor no setor de óleo e gás, teria trabalhado ativamente, e com êxito, para defender os interesses de Suarez no texto da MP sobre a estatal do setor elétrico.
Fontes ouvidas pela reportagem apontam Carlos Seabra Suarez, de 70 anos, como uma das maiores forças de lobby no Congresso no setor de óleo e gás - no qual teria sociedade em cerca de 20 empresas. Suarez também é um dos fundadores da OAS (é dele o "S" na sigla), empresa que depois de sua saída seria envolvida nas investigações da Operação Lava Jato, durante os governos do PT.
A relação entre Pires e Suarez, dizem fontes, começou há cerca de três anos, época em que o consultor teria passado a defender os interesses do empresário junto ao governo - tendo um papel na definição de um "jabuti" (termo usado para a inclusão de temas não relacionados ao projeto original) na MP da Eletrobras.
Nesse caso, a medida provisória, do deputado Elmar Nascimento (DEM-PA), ganhou um trecho que passou a obrigar a compra de energia de termoelétricas, movimento visto como forma de beneficiar empresários do setor de gás. O "jabuti" vai no movimento contrário ao do setor de energia, em busca de matrizes mais limpas.
Com o alerta da Petrobras apontado conflito de checagem, os patrocinadores da indicação de Pires no governo foram retirando o apoio. "O cara é um conflito ambulante", resumiu uma fonte do Palácio do Planalto.
Fonte: Tribuna do Norte.