Hospital negou vaga para atender menina que morreu picada por escorpião, diz UPA de Ourinhos


Giovana Mendes, de 4 anos, teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu Ourinhos — Foto: Arquivo Pessoal

24 de OUTUBRO 2018 - A coordenação da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Ourinhos (SP), que fez o primeiro atendimento da menina de 4 anos que morreu após ser picada por um escorpião na segunda-feira (22), afirma que a Santa Casa negou o pedido de vaga feito pela unidade após o estado de saúde da criança piorar.

Ainda segundo a coordenação da UPA, somente depois de 4 horas Giovana Mendes foi transferida e recebeu o soro antiescorpiônico no hospital, mas acabou não resistindo após sofrer pelo menos três paradas respiratórias.

A direção do hospital informou que tratou o caso como prioridade e negou que não tivesse vaga para atender a menina.

O Samu declarou que, assim que uma viatura foi acionada pela família, por volta das 7h20, "imediatamente deixou a criança e sua mãe na UPA por volta das 7h45, portanto em tempo protocolar exigido".

Ainda segundo o Samu, um novo contato foi feito, desta vez pela UPA, às 10h45. Ao entrar em contato com a Santa Casa, local de destino da transferência, foi pedido que aguardasse a confirmação da vaga.

"Após novo contato da UPA, indicando a necessidade de transferência através de 'vaga zero', ou seja, emergencial, deslocamos imediatamente a viatura que efetuou a transferência às 11h15 da UPA para Santa Casa de Misericórdia de Ourinhos."

O Samu informou ainda que "apenas [faz] as transferências solicitadas, e não tem a premissa de gerenciar vagas em qualquer unidade hospitalar, ou determinar a necessidade ou não da transferência... não houve qualquer infração ou descumprimento de normas por parte do Samu que pudesse ensejar qualquer tipo de penalização, no presente caso".

A picada

Giovana foi picada quando colocava uma blusa antes de ir para a escola. De acordo com familiares, a menina pediu para que a mãe colocasse uma blusa de frio nela. Ao vestir, Giovana começou a gritar de dor e a mãe viu o escorpião.

Quando tentou tirar o aracnídeo, a mãe também acabou sendo picada. As duas foram socorridas para a Unidade de Pronto Atendimento. A mãe foi atendida e liberada em seguida.

Segundo a coordenação de enfermagem da UPA, Giovana deu entrada no local por volta das 8h de segunda-feira. Na unidade ela foi medicada e levada para observação para a sala de emergência. Por volta das 8h10 ocorreu uma piora no quadro de saúde e a UPA acionou uma vaga na Santa Casa, que teria sido negada.

A UPA então acionou o Samu para transferir a criança sob condição de vaga zero. Quando o Samu chegou, a criança estava em estado grave, com hipertensão e dificuldade em respirar, informou a unidade de pronto-atendimento.

Ao chegar à Santa Casa a criança recebeu soro antiescorpiônico, apresentou melhora, mas na sequência voltou a passar mal, foi transferida para a UTI infantil.

A menina morreu por volta das 21h15. O corpo foi enterrado na tarde desta terça-feira (23), no Cemitério da Saudade.

Segundo o médico dermatologista especializado em acidentes com animais peçonhentos, Vidal Haddad Júnior , o tempo de socorro é essencial para evitar o pior.

"A grande medida contra a picada de animal peçonhento é o tempo de atendimento, quanto mais cedo, menos complicações a pessoa vai ter. Especialmente no caso de crianças e idosos. As pessoas precisam saber que a maioria das picadas de escopião podem ser controladas com anestésico, não precisa nem de soro, mas existe uma porcentagem mais grave, depende também da espécie do escorpião e nesses casos é fundamental que haja o soro e atendimento rápido."

De acordo com o Ministério da Saúde, a grande maioria dos acidentes com escorpiões registrados no país é leve em adultos. Os adultos apresentam dor imediata, vermelhidão e inchaço leve por acúmulo de líquido e suor. Já em idosos e crianças abaixo de 7 anos o risco é maior com alterações sistêmicas nas picadas por escorpião-amarelo, que podem levar a casos graves e requerem soroterapia específica em tempo adequado.

Outros casos na região

Em Cabrália Paulista, a menina Yasmin Lemos Campos, de 4 anos,morreu após ser picada por um escorpião no quintal da casa onde morava, em julho deste ano. A menina passou por três cidades e, em duas delas, não havia soro antiescorpiônico.


Yasmin Lemos Campos, de 4 anos, morreu após ser picada por um escorpião no quintal de casa em Cabrália Paulista — Foto: Arquivo pessoal

Nesse caso, a Polícia Civil de Duartina abriu uma investigação para apurar se houve omissão de socorro que resultou na morte da menina. O inquérito aguarda laudo do IML para ser concluído e segundo o delegado responsável, Paulo Calil, já foram ouvidos profissionais das três unidades de saúde que fizeram atendimento de Yasmim.

Já em Barra Bonita, em abril, Brian Gabriel Alves, de 6 anos, também morreu após ser picado. Segundo o pai do garoto, não havia soro no hospital da cidade. E, cerca de 40 minutos após sua entrada, ele foi transferido para a Santa Casa de Jaú, cidade vizinha.

Em Jaú, o garoto tomou o soro, mas não resistiu e morreu cerca de três horas depois de ter sofrido a picada.



Garoto de 6 anos morreu após ser picado por escorpião em Barra Bonita — Foto: Facebook/Reprodução

Ação do MPF

Após esses casos, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação para que a União e o Estado de São Paulo disponibilizem, pelo menos, seis doses de soro antiescorpiônico em cada um dos municípios da região de Jaú.


A medida foi acatada e as doses devem ser distribuídas no prazo máximo de 20 dias a partir desta terça-feira (23).

Atualmente, as cidades de Bariri, Barra Bonita, Bocaina, Boraceia, Brotas, Dois Córregos, Igaraçu do Tietê, Itaju, Itapuí, Mineiros do Tietê e Torrinha não possuem doses em suas unidades de saúde, o que obriga a população a se deslocar até Jaú para receber o tratamento sorológico, quando necessário.

O pedido do MPF para que todas as 11 cidades contem com um estoque mínimo de soro visa garantir o atendimento emergencial em episódios graves de picadas de escorpião, geralmente envolvendo idosos e crianças, nos quais a administração do antídoto é muitas vezes a única maneira de salvar a vítima.

Nesses casos, é recomendada a aplicação de seis ampolas do antiveneno em curto espaço de tempo. A decisão também determina a preservação das 12 unidades do antídoto mantidas atualmente na Santa Casa de Misericórdia de Jaú, bem como a reposição imediata das doses utilizadas, sob pena de multa de R$ 15 mil em caso de descumprimento.

Veja mais notícias da região no G1 Bauru e Marília.

OURINHOS - Por G1 Bauru e Marília

Nenhum comentário:

Postar um comentário