Pai realiza cerimônia de casamento da própria filha no Ceará

Diácono celebra o casamento da própria filha em Milagres, no interior do Ceará — Foto: Bruno Yacub/Arquivo pessoal
Diácono celebra o casamento da própria filha em Milagres, no interior do Ceará — Foto: Bruno Yacub/Arquivo pessoal

11 de FEVEREIRO 2020 - O casamento é um momento marcante para qualquer noivo ou noiva, mas o matrimônio de Rebeca Sampaio, de 29 anos, teve um detalhe ainda mais especial: foi celebrado pelo próprio pai, o diácono Raimundo Tarcísio Cabral. O casamento ocorreu na cidade de Milagres, no interior do Ceará, neste sábado (8).
O diácono entrou na igreja levou a noiva até o altar como pai, vestiu a batina e celebrou a cerimônia. Após a troca de alianças, tirou a batina e voltou a condição de patriarca da família.
“É sempre um momento de muita emoção, da gente até achar que não tem o merecimento, que jamais sonharia um momento desse. Uma graça muito grande. Momento de louvar e agradecer a Deus”, diz Raimundo.
O fato é permitido pela Igreja Católica, porque o diácono é um título de terceiro grau da Ordem do Sacramento, abaixo de bispos e padres. Como parte do clero, estes “servos de Deus” são responsáveis trabalhos administrativos nas dioceses, mas também podem realizar cerimônias como batismo e casamento.
Em caso de solteiros e viúvos, a ordenação paralisa este estado, devendo permanecer celibatários pelo resto da vida, assim como padres. Porém muitos diáconos permanentes, como Raimundo, foram ordenados após casarem e constituir família.

Diácono há quase três anos, Raimundo levou sua filha Rebeca ao altar como 'pai', vestiu a batina, e realizou o rito religioso. — Foto: Vinícios Diniz/Arquivo pessoal
Diácono há quase três anos, Raimundo levou sua filha Rebeca ao altar como 'pai', vestiu a batina, e realizou o rito religioso. — Foto: Vinícios Diniz/Arquivo pessoal

Educadora Física, Rebeca conheceu Danilo Alvar Araújo, 32, na época da rede social Orkut, que já foi extinta. Ela nasceu em Brejo Santo e ele é natural de Barbalha. Os dois namoraram por sete anos e sete meses e, há três anos, ficaram noivos. “A emoção foi diferente, porque foi meu próprio pai que fez nosso casamento e todos os convidados estavam com uma expectativa muito grande”, admite.
A noiva não escondeu a ansiedade de percorrer a Igreja de braços dados com o pai para, em seguida, encontrá-lo no altar. “Foi muito marcante, pois, ele me entregou ao noivo e foi se vestir para celebrar o casamento. Aquele momento ficou marcado para o resto da minha vida. Momento inesquecível”, define Rebeca.

Trajetória

Nascido em uma família cristã, Raimundo se afastou da Igreja Católica na juventude e passou a frequentar igrejas evangélicas. Só voltou à religião aos 34 anos, quando era espírita kardecista, e já tinha dez anos de casado. No grupo do Encontro de Casais com Cristo (ECC), se reconciliou com a doutrina. “Foi minha conversão”, lembra.
De volta à Igreja Católica, começou a fazer parte das pastorais, fazendo trabalho missionário em Brejo Santo. “Aí fui convidado para ser ministro da eucaristia pelo monsenhor Dermival Gondim. Com algum tempo, me convidou para ser diácono permanente, mas não estava preparado”, lembra. Dez anos depois, recebeu o mesmo convite e entrou no Seminário São José, em Crato. “Já estava consciente de minha missão”, acredita.
Após seis anos de seminário, Raimundo foi ordenado no dia 23 de abril de 2017. De lá para cá, já realizou casamentos e batizados em Brejo Santo. Casado há 39 anos com Goreth Cruz Cabral, é pai de três filhos, sendo Rebeca a caçula. “Tive a graça de realizar esse casamento”, finaliza.

Por Antonio Rodrigues, G1 CE

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