Delegados recebiam mensalinho de R$ 5 mil para passar informações sobre investigações, diz PF


16 de OUTUBRO 2020 - As investigações da Polícia Federal descobriram que um grupo de empresários, do ramo de saúde, pagava uma espécie de mensalinho, no valor de R$ 5 mil, para que delegados federais dessem informações sobre qualquer operação que fosse planejada pela instituição contra eles.

Um dos grupos, segundo as investigações, atuava fornecendo medicamentos a prefeituras do RJ. E, por isso, queriam, de acordo com investigadores, que o delegado Wallace Noble, de 39 anos, desse informações sobre possíveis investigações sobre o setor.

O delegado Wallace Noble foi preso nesta quinta-feira (15), na segunda fase da operação Tergisversação. O empresário Marcelo Freitas Lopes , também com mandado de prisão, não foi encontrado pelos policiais.

A polícia diz que já comprovou pagamentos de R$ 10 milhões em propina pelo grupo. O Ministério Público Federal diz que havia uma organização criminosa que agia de maneira sistêmica dentro da Superintendência da PF no RJ:

"A atuação da organização criminosa (...) teria se caracterizado como um quadro de corrupção sistêmica instalado em busca de recebimento de propina por parte dos aludidos delegados de Polícia Federal"

Segundo a corporação, as investigações mostram ainda que durante os meses de fevereiro e abril de 2017, o delegado Wallace Noble teria recebido R$ 480 mil em propinas pagas por empresas localizadas em Volta Redonda, no Sul Fluminense.

Na ocasião, o delegado estava em missão na região e conseguiu concluir o inquérito em pouco tempo tomando presencialmente o depoimento de envolvidos que residiam no Rio, o que não é usual e poderia ser feito através de carta precatória.

Depoimentos de colaboradores e depósitos bancários obtidos pela PF mostrariam que essa forma de agir foi uma maneira do policial se aproximar dos investigados e receber propinas.

A primeira etapa da operação, em junho do ano passado, prendeu um delegado da ativa da PF, um escrivão da PF e um advogado.

A força-tarefa afirmou à época que o esquema excluía, mediante propina, os nomes de empresários e de suas companhias das investigações em curso em um núcleo da Polícia Federal. Seis pessoas foram denunciadas pelo MPF pelos crimes de corrupção ativa e passiva.

Os suspeitos nesta segunda fase são investigados por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, organização criminosa e obstrução à justiça.

Nesta quinta-feira, os policiais estiveram ainda na casa de um delegado federal aposentado e no apartamento de um delegado da Polícia Civil do Rio. A Corregedoria da instituição acompanhou as buscas.

Por Arthur Guimarães, Helter Duarte, Márcia Brasil, Marco Antônio Martins e Paulo Renato Soares, G1 Rio

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