Ex-diretor de presídio em MG e delegado da Polícia Civil são presos em operação da PF contra corrupção nas penitenciárias

Ex-diretor da Penitenciária Nelson Hungria, Rodrigo Clemente 
Malaquias — Foto: Reprodução/TV Globo

08 de OUTUBRO 2020
O ex-diretor da Penitenciária Nelson Hungria Rodrigo Clemente Malaquias, o delegado da Polícia Civil Leonardo Estevam Lopes e o advogado Fábio Piló estão entre os presos na manhã desta quinta-feira (8) em uma operação que investiga um esquema de corrupção para beneficiar presos por meio do pagamento de propina a servidores e advogados. (leia mais abaixo)

Entre as vantagens que os detentos obtiam por meio da ação ilegal estão a permissão para mudar de alas ou pavilhões com regime mais brando e o acesso a objetos ilícitos que chegavam às unidades por meio dos envolvidos na fraude.

Ao todo, estão sendo cumpridos pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco), sob coordenação pela Polícia Federal, 29 mandados de prisão e 45 de busca e apreensão contra uma organização criminosa que se instalou em unidades prisionais de Minas Gerais. A operação ocorre em Belo Horizonte e mais 14 cidades do estado.

Os 29 mandados de prisão são contra 5 parentes de presos; 5 servidores públicos (os policiais penais Cláudia Rezende Moreira, Reginaldo Santos Soares, Delano Augusto Alves de Oliveira, Rodrigo Malaquias e o delegado Leonardo Estevam Lopes); 6 advogados (Patrícia Amorim Rocha, Jackson Ferreira Caitano, Fábio Marcio Piló Silva , Luis Astolfo Sales Bueno, Wesley Soares Lacerda e Maria Aparecida de Souza Assunção) e 13 pessoas que já estavam presas. Até as 10h20, faltava cumprir apenas um mandado de prisão, de um ex-detento.

Os alvos são investigados pelos crimes de participação em organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e concussão. As penas podem chegar a 20 anos de reclusão.

Esquema

De acordo com as investigações integradas entre as polícias Civil e Penal de Minas Gerais e o Departamento Penal Federal, presos de alta periculosidade eram transferidos indevidamente de unidades após pagamento, que era dividido entre os líderes da organização criminosa.

Com o pagamento da propina, segundo a investigação, os detentos eram colocados em alas ou pavilhões com benefícios, como trabalho, a que não teriam direito pelas normas da execução penal. Os servidores públicos e advogados atuavam na negociação para a entrada de objetos ilícitos.

Os investigadores conseguiram identificar crimes praticados pela organização criminosa, principalmente em duas unidades prisionais na Região Metropolitana de Belo Horizonte -- o Complexo Penitenciário de Segurança Máxima Nelson Hungria, em Contagem.

O nome da operação é "Alegria", em alusão à forma cômica como os integrantes da organização se referem a este estabelecimento.

Prédio onde está sendo cumprido mandado de busca 
e apreensão em BH — Foto: Aluísio Marques/TV Globo

Mandados

Além da capital, os mandados são cumpridos nos municípios de Betim, Contagem, Fervedouro, Francisco Sá, Lagoa Santa, Matozinhos, Muriaé, Ouro Preto, Passos, Patrocínio, Ribeirão das Neves, Uberaba, Uberlândia e Vespasiano.

A organização criminosa atuava há 1 ano e meio e, segundo o delegado da Polícia Federal, Alexsander Castro, só um servidor lucrou cerca de R$2 milhões neste período.

O advogado de Rodrigo Clemente Malaquias, Leandro Martins, disse que vai se manifestar após ter conhecimento dos autos do inquérito.

A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) falou que não compactua com os desvios de conduta de seus servidores e tem atuado, com prioridade e dentro do que prevê a lei, no combate a ações criminosas. "Os profissionais presos nesta manhã não conjugam dos valores dos mais de 17 mil servidores que, diariamente, possuem a missão de custódia e ressocialização de cerca de 60 mil internos em Minas".

O G1 entrou em contato com a defesa do advogado Fábio Piló e com a Polícia Civil, mas, até a última atualização desta reportagem, não havia obtido retorno. A reportagem não conseguiu contato com o delegado Leonardo Estevam Lopes ou sua defesa.


Dinheiro apreendido na operação — Foto: Divulgação/PF

Operação "Alegria" é realizada em Belo Horizonte e mais 14
municípios mineiros — Foto: Danilo Girundi/TV GloboPor

Fernando Zuba, TV Globo — Belo Horizonte

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