Magnus Nascimento
Pesquisa de campo com população de rua foi iniciada em
Pesquisa de campo com população de rua foi iniciada em
dezembro do ano passado e mapeou 41 municípios do Estado
Segundo a Secretaria, o número total gira em torno de 2.000 pessoas em situação de rua no RN, majoritariamente homens, pretos ou pardos, e com problemas familiares.
Segundo Edivania Lima, coordenadora da Assessoria Técnica na Sethas, inicialmente foi feita uma seleção de pesquisadores-bolsistas para atuar no Projeto de Pesquisa e Inovação “Promoção dos direitos da população em situação de rua no Rio Grande do Norte: diagnóstico e intervenção nos caminhos de inovação no Sistema Único de Assistência Social”. As pesquisas de campo começaram em dezembro de 2021, com capacitação do pessoal envolvido.
“Começamos a trabalhar a partir de dados da base do Cadastro Único, que tinha mapeado 1.120 pessoas em situação de rua no RN. Hoje sabemos que esse número é maior, em torno de 2.000. Ao aplicar nosso questionário, acabamos encontrando diversas lacunas e divergências. No levantamento, dos 167 municípios potiguares, a presença de pessoas em situação de rua foi registrada em 41, com maior incidência em Natal e na região do Trairi”, comenta a coordenadora.
Os achados da pesquisa serão divulgados por meio de relatórios parcial e final, mas a Secretaria já pôde divulgar algumas informações acerca do perfil desse público. O questionário tem cerca de 78 questões que buscam entender a realidade de cada indivíduo. Edivania apontou que são predominantemente homens, pretos ou pardos, na faixa etária de 18 a 59 anos e com baixa escolaridade. “Um ponto muito forte que temos identificado diz respeito ao motivo pelo qual aquelas pessoas estão na rua. Em primeiro lugar, temos situações de conflito e fragilidade de vínculos familiares, depois separação, morte dos pais e uso abusivo de drogas”.
Na avaliação da coordenadora, os resultados serão importantes para pensar e formular políticas públicas efetivas para essa população que tem aumentado no contexto da pandemia. “São muitas demandas e situações, quando fecharmos o diagnostico vamos poder buscar essa atuação intersetorial para construir políticas mais efetivas. No contato com os entrevistados, eles relataram falta de emprego, oportunidade e acesso aos serviços básicos que acabam intensificando o quadro de permanência na rua”, aponta.
Em muitos casos observados, as pessoas não tinham documentação pessoal como CPF, RG e Carteira de Trabalho, o que dificulta a inserção em programas de assistência social. Também foi registrado um aumento no número de idosos, maior relato de problemas mentais entre o público, bem como pessoas com deficiência em situação de rua sem acesso à benefícios. Ao final do trabalho, a Sethas realizará capacitações e oficinas com os municípios, enfatizando atuação intersetorial, principalmente nos locais onde foram identificadas as maiores incidências de pessoas em situação de rua.
População sonha em quebrar o ciclo
Mário Batista, 39 anos, já foi aprovado em segundo lugar para o curso de Administração da UFRN em 2017. No terceiro período, precisou abandonar o curso por dificuldade de conciliar os horários com seu dia a dia nas ruas e falta de apoio da instituição. Atualmente, é atendido pela Casa de Apoio Alimentando Com Amor, no bairro de Cidade Alta, e trabalha como vendedor ambulante nas praias e ônibus de Natal.
“A primeira vez que fui para a rua tinha 16 anos e saí da casa dos meus pais. Desde então, são muitas idas e vindas nessa caminhada. Agora são quatro anos seguidos na rua. Para mim, tem três ingredientes em proporções diferentes que levam pessoas a essa situação: família desestruturada, problemas psicológicos e situação financeira. Tive uma infância bem complicada na relação com minha família, tenho transtorno de Borderline e a questão financeira vem como consequência”, diz.
Com cinco filhos, Mário pretende voltar à universidade e já conseguiu isenção de taxa para se inscrever no ENEM. “Quero entrar novamente em Administração, é o que eu quero para mim. Sinto que nasci para isso, peço ajuda para conseguir um curso preparatório. Essa questão da rua, para você sair dela, você precisa você precisa tomar atitude, você tem que fazer coisas. Só que para fazer isso, tem que ter uma determinada estrutura que não existe justamente porque tá na rua entende? Estou vivendo esse ciclo que por mais que eu me esforce, me sinto preso”, relata.
Milena Conceição tem 24 anos e estava na Casa de Apoio com seu filho Luan Miguel, que vai fazer dois anos no mês que vem. A jovem está gravida e pretende entregar o bebê em adoção por falta de condições. Sem trabalhar, Milena só recebe o Auxílio Brasil. “Cometi um erro de gostar e confiar em alguém que não merecia e estou aqui há três meses. Tá tão difícil, tão pesada a vida. Às vezes dá até vontade de desistir de tudo”.
Natural de Natal, Milena sonha em ser manicure mas não conhece ninguém que possa ajudá-la nesse caminho. “Não tive sorte de estudar, estou desempregada mas tenho que trabalhar para dar alguma coisa para o meu filho. Perdi minha mãe e só falo com uma prima distante. Quando vou na maternidade, a médica pergunta se eu não tenho alguém. Me sinto até mal porque não tem mesmo. Não tive sorte na vida”, completa.
Cyda Lima, de 52 anos, é responsável pela Casa de Apoio Alimentando Com Amor, imóvel de 486 m², na esquina das ruas Santo Antônio e Professor Zuza, no bairro de Cidade Alta. O local acolhe pessoas em situação de rua e cerca de 20 pessoas residem atualmente. O projeto é mantido através de doações de amigos, conhecidos e algumas poucas instituições. O Alimentando com Amor recebe itens de higiene pessoal, como pasta de dente, sabonete, barbeador. As doações podem ser feitas no local ou via pix (chave: 84986900256), em caso de dinheiro. Mais informações podem ser obtidas por meio da página do projeto no Instagram (@alimentandocomamor).
Fonte: Tribuna do Norte.
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