UMA TRISTE REALIDADE.

27 de JULHO 2022 - A Cracolândia mudou de lugar. O que permanece é a angústia de quem procura parentes escravos da dependência.

"Eu nunca tinha visto tanta tragédia como naquele lugar. Ali é o fim do fim do ser humano. Ali é o pior lugar que o ser humano pode chegar"

As palavras cheias de angústia saem da boca de quem perdeu o que considerava mais certo na vida. Aos 63 anos, a costureira Marilena Feitosa passou os últimos 15 ao lado do marido, Ezequiel Batista, de 50. O casamento no papel não saiu há muito tempo: pouco mais de quatro anos. Mais recente ainda foi o rompimento dessa história de amor. Há oito meses, Ezequiel deixou Marilena para se entregar ao crack.

"Ele sempre falava: 'amor, nós vamos acabar bem velhinhos juntos. Eu não me vejo sem você.' E, agora, um maldito vício tirou ele de mim. Eu ficaria mais feliz se fosse uma mulher. Porque eu saberia que me traiu por uma mulher. Mas um vício tão terrível como crack acabou com a minha vida."

Ezequiel usa drogas há pelo menos três anos. Como muitos parentes de dependentes químicos, a esposa só descobriu o vício ao notar que o dinheiro — tão difícil de ganhar — passou a, simplesmente, desaparecer.

"Começava a sumir dinheiro dentro de casa: R$ 10, R$ 20, R$ 50. Até que eu descobri. E eu chorava muito. Eu saí de casa por uns três dias. Porque eu não queria aceitar aquela vida".

Foram muitas tentativas de contornar a situação. O casal buscou tratamento e Marilena sempre permaneceu ao lado do marido. Até que, um dia, ao voltar do trabalho, percebeu que Ezequiel não estava mais em casa.

"Eu vi uma folha, um papel debaixo de um caderno em cima do sofá. Aí, eu puxei e estava lá um bilhete":

"Amor, sei que essa não é a melhor forma. Mas é a que eu achei. Não dá mais. Já fiz muita coisa ruim com você. Tô indo embora"

"Meu esposo desapareceu do nada. Sem briga, sem motivo algum. Eu tinha saído e deixado ele em casa. Ele ainda foi até o portão, me levou, me deu um beijo. Quando eu voltei, ele já não estava mais. Eu entrei em desespero".

De lá para cá, a cada noite, Marilena cai no choro. E se reergue, todas as manhãs, com um propósito, uma meta de vida: encontrar o marido. Nem que, para isso, tenha que frequentar os lugares maculados pela droga que o tirou de sua vida. Mesmo castigada por dores nas pernas causadas por uma artrite, a esposa enfrenta uma viagem de quatro horas de ônibus, trem e metrô até o centro de São Paulo. Tudo para buscar de pistas sobre o paradeiro de Ezequiel.

"Não dá pra entender, nem aceitar. Mas, se ele quer essa vida, tudo bem. Eu não vou brigar. Mas eu quero saber onde ele está".

Fonte: R7

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