15 de Fevereiro de 2013 -
Dezessete dias antes de passar a faixa presidencial para
Dilma Rousseff, Lula realizou uma viagem sentimental ao Nordeste.
Vistoriou pela última vez as obras da transposição do Rio São Francisco.
“Estou percebendo que a obra vai ser inaugurada definitivamente em
2012, a não ser que aconteça um dilúvio…” Embora não tenha ocorrido
nenhum dilúvio, a promessa de Lula converteu-se em constrangimento para a
sucessora Dilma Rousseff, co-responsável pelo vexame.
Chefe da Casa Civil de Lula, Dilma coordenava o PAC, que tinha na
transposição sua mais vistosa prioridade. Na campanha de 2010, a obra
foi à vitrine como um grande feito do presidente-operário e da
candidata-gestora. Decorridos dois anos de sua presidência, Dilma
manuseia contas que dão ao discurso de campanha a aparência de um
estelionato verbal. Pelos dados oficiais, menos da metade do
empreendimento (43%) está pronto.
Ministra, Dilma avalizara um orçamento de R$ 4,8 bilhões. Presidente,
convive com previsões que jogam o custo das obras para R$ 8,4 bilhões.
As empreiteiras reivindicam mais. Começam a pipocar as denúncias de corrupção.
O cronograma agora prevê que a fita será cortada por uma Dilma reeleita
ou, em caso de dilúvio eleitoral, pelo sucessor dela. Coisa para 2015. O
TCU avisa que, se não melhorar a gestão, o atraso pode ser maior.
Na próxima terça-feira (19), uma comissão especial constituída no
Senado para esquadrinhar a encrenca ouvirá as explicações de
representantes de 12 empreiteiras
que atuam na transposição. Em outubro de 2010, quando Dilma foi eleita,
o governo trombeteava a presença de 9 mil operários nos canteiros que
fervilhavam à beira do São Francisco. Hoje, o Ministério da Integração
Nacional, responsável pela obra, se esfalfa para chegar ao meio do ano
com pelo menos 6 mil trabalhadores na ex-prioridade do PAC.
Chama-se Fernando Bezerra o ministro da Integração. Por ironia, é
afilhado político do governador pernambucano Eduardo Campos.
Candidatando-se à Presidência em 2014, o mandachuva do PSB talvez se
anime a dividir com Dilma as explicações sobre o malogro do projeto que
deveria ter livrado o sertanejo do flagelo da seca no ano da graça de
2012.
Ouvido pela comissão do Senado em dezembro passado, o apadrinhado de Campos empilhou os entraves
que encareceram e atrasaram as obras: falhas no projeto básico,
abandono de canteiros por algumas empresas, fragmentação dos contratos
entre cerca de 90 construtoras, inexistência de titularidade de terras e
burocracia nas desapropriações. Citou até a conversão da Delta de
construtora em caso de polícia como um dos empecilhos.
Crivado de críticas por alguns senadores, Fernando Bezerra discorreu
sobre o impressionante sem fazer a concessão de um ponto de
interrogação: “Não faltou planejamento nem gestão”, disse o ministro.
Como assim? “É porque é complicado, mesmo com projetistas do mais alto
quilate técnico.”
Fonte: SERRINHA DE FATO
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