Vaticano presta contas na ONU sobre abuso contra crianças no clero.


Homem protesta nesta quinta-feira (16) contra a Santa Sé em frente ao quartel-general do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU em Genebra; 'Vaticano protege pedófilos', diz cartaz (Foto: Fabrice Coffrini/AFP)


16 de JANEIRO de 2014 - O Vaticano afirmou nesta quinta-feira (16), ao Comitê de Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU), que não existe desculpa possível para os casos de exploração e violência contra menores e admitiu que existem responsáveis por abusos em "todas as profissões, inclusive entre membros do clero".



"Existem abusadores entre os membros das profissões mais respeitadas do mundo e, mais lamentavelmente, inclusive entre membros do clero e de funcionários da Igreja", disse o monsenhor Silvano Tomasi, representante da Santa Sé na ONU.

A apresentação do Vaticano no comitê é a primeira oportunidade de a Igreja Católica participar de um debate público focado nos abusos sexuais de crianças cometidos por sacerdotes.

"A Santa Sé cuidadosamente delineou políticas e procedimentos no intuito de ajudar a eliminar tal abuso e a colaborar com as respectivas autoridades estatais para lutar contra este crime. A Santa Sé também se comprometeu a ouvir cuidadosamente às vítimas de abuso e de admitir o impacto de tais situações nos sobreviventes e em suas famílias", disse Tomasi.

"A vasta maioria dos membros da Igreja, em instituições e no nível local, forneceu e continua fornecendo uma ampla variedade de serviços às crianças, educando-as e apoiando suas famílias e respondendo a suas necessidades físicas, emocionais e espirituais. Crimes anteriores cometidos contra crianças foram justamente julgados e punidos pelas autoridades civis competentes em seus respectivos países."

'Interesses do clero'
O comitê pediu "diligência" à Igreja no tratamento dos casos de pedofilia.

"O exemplo que a Santa Sé deve dar ao mundo deve virar um precedente. Tem que marcar um novo enfoque", disse Sara Oviedo, integrante da equipe investigadora do comitê.

Ela denunciou que, na gestão dos escândalos de pedofilia, "se deu preferência aos interesses do clero".

"A Santa Sé não estabeleceu nenhum mecanismo para investigar aos acusados de perpretar abusos sexuais, nem tampouco para processá-los", disse.

Ela também criticou as medidas tomadas pelo Vaticano em relação aos autores de abusos sexuais.

"Os castigos aplicados nunca parecem refletir a gravidade" dos atos, disse.

Série de escândalos
Durante mais de uma década, a Igreja Católica foi abalada por uma série de escândalos de abusos sexuais cometidos por religiosos contra menores, que começou na Irlanda e se estendeu a Alemanha, EUA e vários países latino-americanos.

Os abusos foram, em muitas vezes, encobertos por superiores hierárquicos dos autores, que em muitos casos os transferiram para outras paróquias em vez de os denunciar à polícia.

Assim como os demais signatários da Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, de 1989, a Santa Sé se compromete a enviar informes regulares sobre o respeito às normas do documento, e aceita a supervisão dos investigadores do comitê.

O Papa Bento XVI (2005-2013) foi o primeio a pedir perdão às vítimas. Ele pediu uma política de "tolerância zero" contra os autores de abusos.

O atual Papa, Francisco, eleito em março do ano passado, criou no início de dezembro uma comissão para ajudar às vítimas de padres pedófilos e para evitar novos casos.

A comissão, criada segundo as recomendações dos oito cardeais que assessoram Francisco para a reforma da Cúria Romana, deve trabalhar com os bispos e as conferências episcopais e sugerirmedidas para proteger as crianças.

Tomasi disse que a Santa Sé é responsável legal pela aplicação da convenção apenas no território da Cidade do Vaticano, onde vivem 36 crianças. A posição foi bastante criticada.

No entanto, ele acrescentou que o Vaticano, como liderança da Igreja, está trabalhando com as paróquias para combater casos de pedofilia.

O Vaticano informou que recebe cerca de 600 denúncias anuais de pedofilia contra sacerdotes, muitas delas sobre fatos ocorridos nos anos 1960, 70 e 80.


O embaixador do Vaticano na ONU, monsenhor Silvano Tomasi, à esquerda, fala com o ex-responsável por investiga abusos na Igreja Charles Scicluna, antes do início de seu questionamento (Foto: Fabrice Coffrini/AFP).


*Globo.com


Retirado do Umarizal News.

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