06 de MARÇO de 2014 - O Rio Grande do Norte é o Estado brasileiro onde o número de óbitos em decorrência da Aids mais cresceu nos últimos dez anos. Entre 2002 e 2012, o Ministério da Saúde (MS) contabilizou um avanço de 176,9% nas mortes entre pessoas com o vírus HIV. Os dados fazem parte de um levantamento elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), ainda não divulgado, obtido pela TRIBUNA DO NORTE. Os números apontam ainda que, em 2012, a taxa de novos casos identificados no Estado era 12,6 para cada grupo de 100 mil habitantes.
Para a coordenadora do Programa Estadual DST/Aids da secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), Sônia Cristina Lins há apenas um fator que explica a evolução avassaladora da doença em terreno potiguar: o diagnóstico tardio. “As pessoas não procuram orientação. Não querem fazer o teste que aponta a presença do vírus. Quando descobrem que são portadores do HIV, já é tarde. Reconheço que o número é preocupante”, avaliou.
Ainda de acordo com Sônia Lins, a descoberta da doença ocorre, na maioria dos casos, quando o paciente procura uma unidade de saúde devido a outros problemas. “A notificação ocorre, por exemplo, no hospital Walfredo Gurgel ou outra undiade quando a pessoa está com sintomas comuns a outras doenças. É feito então a investigação do caso e descobre-se que aquela é um paciente portador do vírus”, disse. “Nesses casos, infelizmente, o tratamento já não é tão eficaz”, completou Sônia Lins.
Se por um lado o Rio Grande do Norte lidera o ranking de aumento das mortes provocadas pela doenças, outros Estados apresentam dados animadores. É o caso de São Paulo, onde houve redução em 32,3% de óbitos em decorrência da Aids. Para Sônia, o que nos diferencia do estado paulistano não é a oferta de mais serviços de saúde, campanhas de prevenção ou distribuição de medicamentos.
“Isso nós também temos. Não nos faltam medicamentos ou campanhas educativas. Falta a conscientização da população. O problema é a identificação somente através das doenças oportunistas”, colocou.
Notificações
O estudo da Flacso, analisado pelo sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, mostram ainda as novas notificações da doença relacionadas no ano de 2012. Neste caso, os heterossexuais lideram as infecções pelo vírus HIV. Naquele ano, este grupo respondia por 67,5% dos casos. A maioria, eram mulheres – 58,2%. A maior incidência de contaminação está na faixa de 30 a 49 anos, incluindo aí, heterossexuais e homossexuais. O Rio Grande do Norte, com 12,6 novos casos identificados a cada cem mil habitantes, ocupa a 24ª posição no ranking. A médica nacional é de 20,2. Com 41,4, o Rio Grande do Sul lidera a estatística. Ainda não há dados do ano passado.
Apesar dos números, Sônia Cristina Lins alertou que os dados podem não ser fidedignos. Isso ocorre porque nem sempre os pacientes revelam a verdade quando entrevistados. “Temos os dados, mas nem sempre se pode confiar. Muitas pessoas não se declaram homossexuais quando questionados. Por isso, as estatísticas apontam a liderança dos heterossexuais. Porém, os homossexuais ainda compõem o grupo mais preocupante”, disse.
De 2000 a 2012, foram registrados, de acordo com o Sistema de Informação de Agravos Notificáveis (Sinan), Sistema de Informação de Mortalidade (Sim) e Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (Siclom), 3.594 casos de Aids em adultos no Rio Grande do Norte. Destes casos, 67% corresponderam ao sexo masculino e 33% ao sexo feminino, o que revela uma razão média de dois casos em homens para um em mulheres.
Em relação à categoria de exposição, quando se estratifica por sexo, observa-se que no sexo masculino há um crescimento do registro da categoria homossexual e bissexual (somadas) a partir de 2008, ultrapassando a categoria heterossexual em 2010 e em 2012, onde 33% representaram a categoria homo/bissexual e 37% a heterossexual. Ressaltando que existe um elevado número de ignorados (36% em 2012), o que representa um deficit de informações para esta variável.
Roberto Lucena
repórter.
Via: Tribuna do Norte / Via Site do Carinha da Net
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