Mãe publica desabafo no Facebook após filho com Down ser discriminado.


Mãe postou carta aberta a moradores após filho 
sofrer preconceito enquanto brincava no 
parquinho o condomínio 
(Foto: Reprodução/Facebook)


14 de JULHO de 2016 - A mãe de uma criança com síndrome de Down publicou um desabafo no Facebook após o filho ser vítima de preconceito dentro do próprio condomínio, na Zona Norte de São Paulo. Inicialmente destinada aos vizinhos, a carta, intitulada "Comunicado de uma mãe", foi postada nas redes sociais e compartilhada mais de 2,2 mil vezes.

Nela, a contadora Rita Iglesias de Souza Marques, de 47 anos, diz que Fernando, de 6, foi chamado de "doido, maluco e retardado" por outras crianças que brincavam no parquinho no começo do mês.

Rita conta que esta não é a primeira vez que Fernando sofre algum tipo de preconceito, mas que, por se tratar de seu condomínio, ela sentiu a necessidade agir. “Já passamos por várias situações, mas chegou em um limite que eu precisava tomar uma atitude, porque aqui é onde ele mora e vai crescer. O parquinho é onde ele vai passar a infância e aqui é onde ele terá as lembranças dele. Eu decidi tomar uma atitude."

Na carta, ela explica aos vizinhos que a síndrome de Down não é uma doença e pede para que as crianças sejam orientadas sobre isso. “Eu prefiro acreditar que esse episódio aconteceu não por preconceito, mas porque os pais mão sabiam o que dizer aos filhos. Por isso eu tive a ideia de buscar algo para ajuda-las a lidar com isso.”

Fernando foi vítima de preconceito 
no condomínio em
que mora 
(Foto: Arquivo pessoal/Rita Iglesias)


Para que todos os moradores lessem a carta, Rita enviou um e-mail para a síndica do prédio pedindo para que ela fixasse o comunicado no quadro de avisos. A moradora não teve resposta e decidiu colar, por conta própria, o recado nos murais. No dia seguinte, os panfletos tinham sido retirados.

O G1 entrou em contato com o condomínio, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Na noite desta quarta-feira (13), a síndica e a subsíndica do condomínio procuraram Rita e disseram apoia-la. Elas disseram também que irão colocar a carta nas áreas comuns e, caso o menino seja vítima de preconceito novamente, pediram para ser avisadas para tomar providências.

"Eu preciso tentar fazer com que as pessoas tenham a consciência. Eu quero que ele tenha um mundo melhor”, disse a contadora.


Obrigação
O advogado Márcio Rachkorsky, especialista em condomínios, afirma que é responsabilidade de toda a gestão do prédio unir esforços para que haja conscientização sobre o que ocorreu com o menino. “O condomínio, por uma questão de cidadania, de respeito aos moradores, ele tem o dever de colocar a circular. A síndica tem o dever de promover, dependendo da gravidade das ofensas, de convocar uma reunião com os pais das crianças", afirmou.

"Uma das obrigações do síndico é manter a ordem, o senso de justiça, e trabalhar pelo respeito entre os vizinhos. Com base nisso, fica claro que a síndica tem o dever de ajudar essa mãe e utilizar todos os meios do condomínio para fazer isso", explicou o especialista.

Para Rita, as pessoas precisam entender a necessidade da inclusão. “Conviver com crianças e pessoas com deficiência nos faz melhores. Passamos a olhar o mundo de forma suave, alegre, ver beleza no simples. O que para muitos pais é normal, para nós é uma alegria imensa, pois é resultado de muita luta.”
Criança foi vítima de preconceito enquanto brincava 
em parquinho do condomínio que mora 
(Foto: Rita Iglesias/Arquivo Pessoal)


Gabriela Gonçalves
Do G1 São Paulo

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