Agressão ocorreu antes de início de filme (Foto: BBC)
Chaturvedi diz que ficou sem reação ao ser agredido
26 de OUTUBRO de 2016 - Um cadeirante sendo agredido por não se "levantar" durante a execução do hino nacional dentro de um cinema.
É o que relata Salil Chaturvedi, ativista indiano em prol dos direitos de pessoas com deficiência. Ele contou à BBC que levou um tapa forte na nuca de um homem enquanto aguardava o início de um filme dentro de uma sala de cinema em Goa, no sudoeste do país.
O incidente aconteceu meses atrás e, na opinião dele, tem como pano de fundo o fortalecimento do patriotismo indiano, devido ao agravamento do conflito na Caxemira.
A região, localizada na fronteira entre a Índia e o Paquistão, é disputada pelos dois países há décadas.
Chaturvedi deu um depoimento à BBC. Confira abaixo.
Como um cadeirante na Índia, ir ao cinema não é tarefa fácil.
Por isso, eu e minha mulher, Monika, não saímos de casa para assistir filmes com frequência.
Mas uma vez a cada três meses nos dedicamos à jornada.
Em uma manhã de domingo alguns meses atrás, planejamos uma visita ao cinema.
Estava animado para ver Kabali, o novo filme de Rajnikant (o mais famoso ator indiano). Afinal de contas, eu nunca havia assistido a um longa dele no cinema.
Peguei meu carro - que foi adaptado especialmente para mim - e seguimos em direção ao local.
Era um domingo chuvoso, muito comum em Goa (sudoeste da Índia).
Acompanhados de um amigo, entramos no cinema para uma sessão vespertina.
Ir ao cinema, para mim, equivale a uma operação de guerra: minha mulher sai à caça dos lanterninhas enquanto observo os pôsteres dos filmes em busca de novos lançamentos, ignorando as encaradas de outras pessoas, normalmente surpresas ao verem um cadeirante.
Algumas crianças sempre apontam para mim perguntando aos pais por que um homem está sentado em uma cadeira de rodas. É fofo, mas irritante.
Monika finalmente reaparece com dois lanterninhas e explica a eles que precisaremos de ajuda para chegarmos ao meu assento e que eu possivelmente terei de ser carregado escada acima.
Ela sugere ainda que tudo isso seja feito antes da abertura dos portões ao público.
Então, naquele dia, nos acomodamos em nossos assentos. A sala enche e o cheiro da pipoca toma o lugar aos poucos.
Mas antes de o filme começar, o hino nacional é executado e todos se levantam.
É o que relata Salil Chaturvedi, ativista indiano em prol dos direitos de pessoas com deficiência. Ele contou à BBC que levou um tapa forte na nuca de um homem enquanto aguardava o início de um filme dentro de uma sala de cinema em Goa, no sudoeste do país.
O incidente aconteceu meses atrás e, na opinião dele, tem como pano de fundo o fortalecimento do patriotismo indiano, devido ao agravamento do conflito na Caxemira.
A região, localizada na fronteira entre a Índia e o Paquistão, é disputada pelos dois países há décadas.
Chaturvedi deu um depoimento à BBC. Confira abaixo.
Como um cadeirante na Índia, ir ao cinema não é tarefa fácil.
Por isso, eu e minha mulher, Monika, não saímos de casa para assistir filmes com frequência.
Mas uma vez a cada três meses nos dedicamos à jornada.
Em uma manhã de domingo alguns meses atrás, planejamos uma visita ao cinema.
Estava animado para ver Kabali, o novo filme de Rajnikant (o mais famoso ator indiano). Afinal de contas, eu nunca havia assistido a um longa dele no cinema.
Peguei meu carro - que foi adaptado especialmente para mim - e seguimos em direção ao local.
Era um domingo chuvoso, muito comum em Goa (sudoeste da Índia).
Acompanhados de um amigo, entramos no cinema para uma sessão vespertina.
Ir ao cinema, para mim, equivale a uma operação de guerra: minha mulher sai à caça dos lanterninhas enquanto observo os pôsteres dos filmes em busca de novos lançamentos, ignorando as encaradas de outras pessoas, normalmente surpresas ao verem um cadeirante.
Algumas crianças sempre apontam para mim perguntando aos pais por que um homem está sentado em uma cadeira de rodas. É fofo, mas irritante.
Monika finalmente reaparece com dois lanterninhas e explica a eles que precisaremos de ajuda para chegarmos ao meu assento e que eu possivelmente terei de ser carregado escada acima.
Ela sugere ainda que tudo isso seja feito antes da abertura dos portões ao público.
Então, naquele dia, nos acomodamos em nossos assentos. A sala enche e o cheiro da pipoca toma o lugar aos poucos.
Mas antes de o filme começar, o hino nacional é executado e todos se levantam.
(Foto: BBC)
Trata-se de um daqueles momentos em que você se sente isolado porque você é o único a permanecer sentado.
Posso escutar um casal atrás de mim cantando o hino em voz alta. Presto atenção neles e admiro o patriotismo.
Agressão
De repente, levo uma tapa forte na minha nuca. Viro-me e vejo um homem gesticulando agressivamente, me mandando levantar.
Ainda atordoado, volto meus olhos à tela e espero o hino acabar. Deveria estar com raiva, penso comigo mesmo, mas minhas mãos tremem de nervosismo.
Quando o hino termina, viro-me novamente e questiono meu agressor: "Por que você não cuida da sua vida?"
A mulher dele, então, intervém e grita: "Você não pode ao menos se levantar para cantar o hino nacional"?
"Você não sabe o que está falando", respondo. "Cuida da sua vida. Por que você tem de resolver tudo no braço e agredir as pessoas?", acrescento.
Minha mulher está observando tudo com surpresa e pergunta-se o que está acontecendo.
Meu amigo também não entende nada.
Mas quando Monika ouve a palavra "agredir", ela se descontrola.
"Por que você agrediu meu marido?", grita ela.
"Por que ele não pode se levantar para cantar o hino?", rebate a parceira do meu agressor.
"Você sabe que ele é cadeirante?", esbraveja minha mulher.
O homem rapidamente se dá conta do erro, reclina-se e começa a pedir desculpas para mim. A mulher dele, no entanto, parece se incomodar e continua batendo boca com Monika.
Foi uma situação horrível. Afinal de contas, nosso objetivo era apenas assistir a um filme.
De repente, um lanterninha aparece e nos pede calma, argumentando que outras pessoas na sala estão incomodadas com a confusão.
Minha mulher me pergunta se estou bem. Eu digo que sim.
"Vamos assistir ao filme, por favor", digo a ela, embora minha vontade naquele momento era de voltar para casa.
Em seguida, o casal atrás de nós se levanta e vai embora. Me sinto imediatamente relaxado.
Fico pensando no momento quando meu agressor decidiu se levantar e me dar um tapa na nuca. Como ele sabia que eu não responderia à agressão?
O amor pelo país dele (que é meu também) é tão intenso que ele acha que pode sair agredindo quem quiser?
E o que eu devo fazer se essa situação voltar a se repetir?
Reflexão
Devo informar as pessoas atrás de mim que sou cadeirante e, portanto, não posso me levantar para cantar o hino?
Devo usar algum tipo de crachá que me identifique como cadeirante?
E mais importante: o hino nacional deve ser tocado no cinema?
Na manhã seguinte, as crianças da escola perto da minha casa cantam o hino nacional antes do início das aulas.
Deitado em minha cama, escuto as vozes delas repletas de patriotismo.
Enquanto isso, espero poder um dia cantar novamente o hino sem que isso me traga más lembranças.
Da BBC
Fonte: G1
Trata-se de um daqueles momentos em que você se sente isolado porque você é o único a permanecer sentado.
Posso escutar um casal atrás de mim cantando o hino em voz alta. Presto atenção neles e admiro o patriotismo.
Agressão
De repente, levo uma tapa forte na minha nuca. Viro-me e vejo um homem gesticulando agressivamente, me mandando levantar.
Ainda atordoado, volto meus olhos à tela e espero o hino acabar. Deveria estar com raiva, penso comigo mesmo, mas minhas mãos tremem de nervosismo.
Quando o hino termina, viro-me novamente e questiono meu agressor: "Por que você não cuida da sua vida?"
A mulher dele, então, intervém e grita: "Você não pode ao menos se levantar para cantar o hino nacional"?
"Você não sabe o que está falando", respondo. "Cuida da sua vida. Por que você tem de resolver tudo no braço e agredir as pessoas?", acrescento.
Minha mulher está observando tudo com surpresa e pergunta-se o que está acontecendo.
Meu amigo também não entende nada.
Mas quando Monika ouve a palavra "agredir", ela se descontrola.
"Por que você agrediu meu marido?", grita ela.
"Por que ele não pode se levantar para cantar o hino?", rebate a parceira do meu agressor.
"Você sabe que ele é cadeirante?", esbraveja minha mulher.
O homem rapidamente se dá conta do erro, reclina-se e começa a pedir desculpas para mim. A mulher dele, no entanto, parece se incomodar e continua batendo boca com Monika.
Foi uma situação horrível. Afinal de contas, nosso objetivo era apenas assistir a um filme.
De repente, um lanterninha aparece e nos pede calma, argumentando que outras pessoas na sala estão incomodadas com a confusão.
Minha mulher me pergunta se estou bem. Eu digo que sim.
"Vamos assistir ao filme, por favor", digo a ela, embora minha vontade naquele momento era de voltar para casa.
Em seguida, o casal atrás de nós se levanta e vai embora. Me sinto imediatamente relaxado.
Fico pensando no momento quando meu agressor decidiu se levantar e me dar um tapa na nuca. Como ele sabia que eu não responderia à agressão?
O amor pelo país dele (que é meu também) é tão intenso que ele acha que pode sair agredindo quem quiser?
E o que eu devo fazer se essa situação voltar a se repetir?
Reflexão
Devo informar as pessoas atrás de mim que sou cadeirante e, portanto, não posso me levantar para cantar o hino?
Devo usar algum tipo de crachá que me identifique como cadeirante?
E mais importante: o hino nacional deve ser tocado no cinema?
Na manhã seguinte, as crianças da escola perto da minha casa cantam o hino nacional antes do início das aulas.
Deitado em minha cama, escuto as vozes delas repletas de patriotismo.
Enquanto isso, espero poder um dia cantar novamente o hino sem que isso me traga más lembranças.
Da BBC
Fonte: G1
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