O ANALFABETO E O DOUTOR.


Não posso assinar meu nome
Porque não sei escrever
Mas eu falo sem temer
Que tenho saber de sobra,
E pra aquele que me esnoba
Só porque sou do sertão
Eu mostro em minha mão
As marcas da minha lida
Honesto vivo a vida
Com suor colho o meu pão.

Eu não sei falar difícil
Nem ando de paletó
Minha casa é um quixó
Onde me escondo do frio
Mas sou um homem de brio
Fique sabendo Doutor
Onde vou sou respeitado
Sou cidadão de vergonha
Não vendo a minha honra
Respeite o meu valor.

As vezes na minha casa
Falta tudo na dispensa
E acho que o Senhor pensa
Que sou pobre ao quadrado
Sou muito bem informado
Do que acontece no Brasil.
Seu Dr. preste atenção
No que agora vou dizer:
Não queira me convencer
À viver em um covil.

O meu bolso é furado
Porque não tenho um tostão
Mas o Senhor tem um Milhão
E inveja disso eu não tenho
No trabalho eu me empenho
Pra família sustentar.
Meu Diploma é o meu caráter
Ganho o pão honestamente
E não quero ser diferente
Deus me livre de roubar.

Foi na Escola da Vida
Que fiz minha Faculdade
E mesmo nessa idade
Ainda estou aprendendo
Cada coisa que vou vendo
Pra mim serve de lição
É vergonhoso Doutor
Ver gente que confiamos
No poder os colocamos
Nadando em corrupção.

Status pra mim não serve
Se não tiver honradez.
Seu Dr. é a sua vez
Qual a sua opinião?
Calado e olhando o chão
O Doutor se retirou
Talvez por sentir vergonha
De encarar a realidade
Eu só sei que na verdade
Nunca mais ali voltou.


CHICO FILHO.

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