(Foto: Reprodução/ TV Gazeta)
14 de JANEIRO 2017 - Aumentou para 80 o número de macacos mortos nos últimos dias, nas regiões Sul e Noroeste do Espírito Santo. A morte desses animais aponta para a suspeita de febre amarela, mas o Estado ainda não é considerada área de risco, e a vacina deve ser aplicada apenas em quem vai viajar para locais com surto da doença.
“A ocorrência de mortes desses animais já é um alerta. Então existe essa preocupação”, diz Gilton Almada, coordenador do Centro de Emergências em Saúde Pública da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
“É importante monitorar para conseguir preceder. Precisamos trabalhar na investigação. Se confirmado, vai ser vacinado o município onde foi encontrado o macaco morto com febre amarela”, diz Gilton. O resultado da investigação sai em cerca de 20 dias.
São 11 casos em Colatina; 17, em Pancas; 34, em Ibatiba; quatro, em Baixo Guandu; quatro, em Governador Lindenberg; e 10, em Irupi. Até a manhã de sexta-feira (13), eram 54 casos. Mas, ao longo do dia, a Prefeitura de Ibatiba confirmou o aumento de 10 para 34 casos na cidade.
Em Colatina, quem também procurou o posto de vacina
logo cedo foi Carlos Roberto Rachid, 64 anos,
aposentado
(Foto: Brunela Alves/ A Gazeta)
Transmissão
Há duas formas de transmissão e de febre amarela. Uma é a silvestre; a outra, urbana.“Na silvestre, a infecção é entre macacos e mosquitos silvestres, que só vivem na floresta. Se uma pessoa entra na floresta, é picada por esse mosquito e vai infectada com o vírus para a cidade, o Aedes aegypti pica essa pessoa e retransmite a doença para outras. Isso caracteriza a febre amarela urbana”, explica o infectologista Aloísio Falqueto.
Ou seja, o mesmo mosquito que transmite a dengue, a zika e a chikungunya é o responsável por disseminar, em área urbana, a febre amarela. “A preocupação maior é não deixar chegar a doença aqui”, diz Aloísio Falqueto.
Em sua forma mais branda, a febre amarela se parece com uma virose simples. Pode apresentar febre, mal-estar, enjoos, vômitos e dores musculares. Na mais grave, icterícia (coloração amarelada de pele e olhos), urina escura, falência renal, falência do fígado e de outros órgãos e até morte.
Vacina
Embora haja a suspeita de que os animais mortos estejam com febre amarela, “não há o que se preocupar”, como disse Gilton, com febre amarela entre humanos no Estado. “Não há transmissão de febre amarela em cidades desde 1942”, diz o coordenador.
Por isso, o Espírito Santo não é um Estado com recomendação para vacinar a população. Ela só indicada para quem vai viajar para regiões com alerta para febre amarela, que não é o caso de nenhuma das cidades do Estado.
O alerta vale, por exemplo, para quem vai para Minas Gerais, que teve 38 mortes por febre amarela e decretou situação de emergência em 152 cidades.
10 primatas mortos em Colatina
Pelo menos dez macacos da espécie barbado (bugio) foram encontrados mortos na divisa de duas propriedades em Itapina, distrito de Colatina, sendo seis animais na área do bancário Dimas Deptuski, 50 anos, e quatro primatas na área do aposentado Luis Carlos Lerback, de 62 anos.
Além dos encontrados na última quinta-feira, Dimas Deptuski contou que no dia 2 de janeiro enterrou outros dois macacos na sua propriedade. “Eu não tinha noção de que eles poderiam estar com suspeita de febre amarela. Achei que fosse coisa da natureza mesmo”, conta.
O bancário ainda disse que só foi possível saber da morte de mais macacos porque, além de andarem em bandos, eles costumavam ficar perto da sua casa. “Se eles não ficassem mais próximos da gente, não iríamos dar conta de que eles tinham morrido aqui.”
Luis Carlos afirmou que esta é a primeira vez que acontecem tantas mortes de macacos na região, mas que diante da suspeita de febre amarela, foi ao posto para se vacinar. “A gente fica um pouco assustado. É melhor prevenir do que remediar. Se não for confirmado, pelo menos estou imunizado com a vacina.”
Já Dimas Deptuski disse que por enquanto não vai tomar a vacina. “Vou esperar o resultado da análise primeiro.”
De acordo com os proprietários, dois macacos mortos encontrados na propriedade foram levados para análise. A Secretaria de Estado da Saúde informou que os resultados devem sair em 20 dias.
Corrida por vacina em Colatina
Em Colatina, Região Noroeste, aumentou a procura pela vacina de febre amarela por quem vai viajar para as áreas de risco. A dona de casa Joaquina dos Santos, 57 anos, pretende visitar parentes em Teófilo Otoni, Minas Gerais, considerada uma área de risco de febre amarela. Diante da suspeita de casos no Estado, ela foi ao posto de saúde na sexta-feira.
O aposentado Carlos Roberto Rachid, 64, também foi o posto. “Vou levar meu filho em Muriaé, Minas Gerais, e decidi tomar. Tem muita gente na fila para isso também. Agora, estou me sentindo protegido”, finaliza.
De acordo com o Protocolo do Ministério da Saúde, quem mora no Espírito Santo não precisa ser vacinado, a menos que vá se deslocar para áreas de risco. O Espírito Santo não é considerado área de risco. Quem planeja sair do Estado e viajar para áreas de risco de febre amarela, como Minas Gerais, São Paulo e Estados do Norte do país, deve se certificar de que está devidamente protegido contra a doença.
Por isso, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) orienta o viajante a buscar uma Unidade Municipal de Saúde caso ainda não tenha tomado a primeira dose da vacina ou a dose de reforço. Se for a primeira vez que a pessoa é vacinada, a dose deve ser aplicada pelo menos dez dias antes da viagem para que o organismo produza anticorpos contra a doença.
Minas: situação de emergência com 38 mortes
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais informou que as notificações de mortes de pessoas com suspeita de febre amarela subiram para 38 no Estado. O número de casos suspeitos chegou a 133. O governo decretou situação de emergência em 152 cidades.
Segundo a Secretaria de Saúde, das 38 mortes, dez são óbitos prováveis da doença, porque os pacientes tiveram exame laboratorial preliminar positivo. A confirmação ainda depende de mais investigação.
Já as notificações de casos suspeitos subiram, em relação ao último balanço, de 110 para 133. Na sexta, o governo decretou situação de emergência em saúde pública por 180 dias nas áreas do Estado onde há surto de febre amarela.
O decreto autoriza a adoção de medidas administrativas necessárias ao combate da doença.
Suspeita
O aumento de casos suspeitos de febre amarela em Minas pode estar relacionado à tragédia de Mariana, em 2015, segundo a bióloga da Fiocruz Márcia Chame. A hipótese tem como ponto de partida a localização das cidades mineiras que identificaram até o momento casos de pacientes com sintomas da doença. Grande parte está na região próxima do Rio Doce, afetado pelo rompimento da Barragem de Fundão.
“Mudanças bruscas no ambiente provocam impacto na saúde dos animais, incluindo macacos. Com o estresse de desastres, com a falta de alimentos, eles se tornam mais suscetíveis a doenças, incluindo a febre amarela”, afirmou a bióloga.
A Fundação Renova, criada pela Samarco para coordenar ações de reparação na área atingida pelo desastre de Mariana, não se manifestou sobre as declarações da bióloga da Fiocruz. Por meio de nota, informou estar em curso um diagnóstico sobre a biodiversidade na região.
Turistas
O coordenador do Centro de Emergências em Saúde Pública da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Gilton Almada, não crê que possam vir pessoas infectadas de Minas Gerais para o Espírito Santo, até pela falta de condições físicas do infectado.
Mas ele alerta para que capixabas que forem viajar para locais com casos confirmados de febre amarela, inclusive Minas Gerais, tomem a vacina. “O ideal é tomar a vacina dez dias antes”, aconselha o coordenador.
Almada diz ainda que o turista mineiro também pode tomar a vacina já que terá que retornar para áreas com perigo de infecção. As vacinas estão disponíveis em postos de saúde municipais.
Repelente esgotado na farmácia e população local com medo
O número de macacos mortos em Ibatiba, Região do Caparaó, chegou a 34. Segundo a Secretaria de Saúde da cidade, somente após resultado do material colhido nos animais a imunização deve ser distribuída à população. Os moradores estão com medo, e o estoque de repelentes de algumas farmácias acabou por causa da grande procura.
Segundo o médico veterinário da Secretaria de Saúde de Ibatiba, Adenir Gomes de Oliveira, 90% dos animais estavam em estado de decomposição, mas foi possível recolher amostra de tecido dos órgãos, principalmente do fígado, dos demais macacos. O material foi encaminhado ao Instituto Evandro Chagas, no Pará. O resultado sai em 20 dias.
O produtor rural Luciano Lucindo Lima encontrou um dos macacos mortos em seu sítio na localidade de Córrego das Perobas e acionou a prefeitura. Apesar de não haver casos confirmados da doença no Estado, as populações dos municípios vizinhos estão em alerta.
Em Irupi, a prefeitura confirmou o aparecimento de 10 macacos mortos. As vacinas, para pessoas que irão para locais de surto, acabaram e chegará nova remessa na próxima segunda.
Febre amarela
Tira-dúvidas
Há recomendação para vacinação no Estado?
O Espírito Santo não é um Estado com recomendação para vacina. A não ser que a pessoa viaje para regiões com o registro da doença.
O que significa para a saúde pública a quantidade de macacos mortos?
Todos os anos há surtos de doenças em animais, fenômeno chamado epizootia, o equivalente nos animais à epidemia para humanos. Quando um surto desses acontece entre macacos, é um alerta de que podem ser vítimas de febre amarela. Investigar esses casos ajuda a antecipar ações contra a doença em meio urbano.
Quais são os sintomas dela?
Em casos mais brandos, a sensação é de uma virose comum, com febre, mal-estar, enjoos, vômitos, dor muscular. Em casos graves, icterícia, urina escura, falência renal, falência do fígado, levando à hemorragia, falência de outros órgãos e morte.
Duram quanto tempo?
A evolução da doença dura de sete a dez dias. Mesmo curada, a pessoa pode apresentar por meses alguns dos sintomas.
Quem teve pode ter de novo?
Não, a pessoa fica imunizada.
É considerada grave?
Sim, com taxa de mortalidade de 15% a 30% entre os infectados.
Como funciona a transmissão?
Mosquitos silvestres picam macacos infectados e espalham a doença entre os animais, gerando uma epizootia, o equivalente à epidemia. A doença pode chegar à área urbana caso a pessoa entre na floresta e lá seja infectada. Ao retornar para a cidade e ser picada pelo Aedes aegypti, esse mosquito que só vive em área urbana, torna-se transmissor da febre amarela.
Quem pode ser vacinado?
A vacina só é indicada em cidades em estado de alerta. No Espírito Santo, nenhuma está nessa situação. Só não é indicada para grávidas e para pessoas com imunodeficiência. Não há efeitos colaterais.
Qual é a validade da vacina?
A política atual do Ministério da Saúde contra Febre Amarela recomenda uma dose de reforço, depois de dez anos da primeira vacina, para crianças e adultos.
Beatriz Caliman, Brunela Alves e Katilaine Chagas
De A Gazeta
Fonte: G1