No mosteiro, vivem 10 monjas entre 26 e 85 anos, sendo três junioristas, ou seja, em processo de formação. A instrução dura, em média, nove anos.
“Começa com o postulado, noviciado e, no mínimo, seis anos de votos simples. Durante esse tempo, se a irmã não quiser realizar os votos perpétuos, ela pode voltar para casa. As irmãs que fazem os votos perpétuos também podem sair, mas é um processo mais complicado que demora em média três anos, chamamos de exclaustração”, disse.
Antigamente, a idade máxima para entrar no mosteiro era de 30 anos, mas essa regra foi alterada. “No meu tempo, uma moça com 20 anos já sabia se queria se casar ou fazer uma opção como a nossa. Hoje, com 20 anos, a moça está fazendo faculdade. Tem muitas mulheres que chegam numa idade mais madura, de 35 até 40 anos, então nós abrimos as portas para as que querem fazer um discernimento”, contou Marta.
Monjas passionistas que vivem no mosteiro
São Paulo
da Cruz, em São Carlos
(Foto: Arquivo Pessoal)
Vestes
As roupas das freiras, chamadas de “hábito”, são usadas de acordo com as orientações da congregação e servem para identificar a vocação. No caso das monjas passionistas, o hábito utilizado é o de cor preta.
“O preto é um sinal de luto, pois vivemos no luto da paixão de Jesus, não é um luto doloroso, pelo contrário, é um sinal de gratidão pelo amor imenso como Deus nos amou. A paixão é a maior manifestação do amor de Deus, maior até que a própria obra da criação. [O preto] é para chocar, é como uma placa para indicar ao mundo e para nós a grandeza do amor de Deus”, afirmou.
A cor preta, segundo Marta, foi escolhida por conta de uma experiência vivida pelo fundador da congregação. “Ele teve uma visão com Nossa Senhora, em que ela estava vestida com um hábito preto e dizendo para ele fundar nossa congregação, para que nos vestíssemos desse modo e anunciar a paixão de Jesus”.
Já o sinal branco do coração, da cruz e das letras é para mostrar como deve ser puro o coração que traz o nome de Jesus gravado. “Um coração sem apego ao pecado”, afirmou Marta.
Local que é entregue os trabalhos artesanais
feitos no mosteiro (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
O peso de ser mulher
Questionada sobre o estilo de vida da maioria das mulheres, a irmã disse que ela e as outras religiosas sentem que o 'sim para Deus' é como se libertar do peso de ser mulher nos dias atuais.
“Existe um peso muito grande em cima da mulher. Tem que usar salto alto, pintar unha, cabelo, ter dois períodos de trabalho, encontrar tempo para fazer academia, cuidar dos filhos, da casa, do marido, ter que competir com as outras mulheres o amor do marido e ainda por cima ter que competir com o homem para dizer que é melhor que ele. Então, para nós, é uma liberdade estar longe de tudo isso, a gente respira, podemos ser nós mesmas. Brincamos que temos um marido que não trai nunca, que nos ama do jeito que nós somos”, disse a religiosa.
Irmã Marta de Jesus Crucificado
(Foto: Fabio Rodrigues/G1)
Viver longe de alguns padrões estabelecidos pela sociedade, contudo, não quer dizer que a vocação é algo simples. “Pelo contrário, nós pregamos muito aquilo que São Paulo pregava, uma busca da santidade, um desafio diário de nos tornarmos melhores para servirmos melhor a Igreja”, disse.
Monjas durante participação na celebração da eucaristia
que acontece diariamente (Foto: Ana Marin/G1)
A irmã ainda lembrou que antigamente a mulher se destacava ou só conseguia espaço caso fosse para a vida religiosa. “Antes, a mulher estava embaixo dos pais ou do marido. Hoje, esse campo abriu para a mulher se realizar, mostrar seu papel, seu valor. Talvez o nosso ‘sim’ não apareça tanto nessa ótica, mas o nosso ‘sim’ não deixa de ser um destaque no sentido de ser um sinal. Porque a nossa vida de perseverança mostra que Deus existe, depois mostra que Deus é bom demais”.
Voto de pobreza
Dentro do mosteiro não há nenhum tipo de luxo, as monjas vivem uma vida de simplicidade, apenas com o conforto necessário. “É uma casa com muita simplicidade, talvez muito mais simples que a de vocês. Antes, o nosso ‘sim’ podia ser um destaque, ser uma honra. Hoje, a gente sabe que também é um sinal de contradição, outros não entendem, alguns riem da nossa cara dizendo que estamos perdendo tempo. Mas ao mesmo tempo ninguém pode dizer que o testemunho não choca, ninguém passa por nós sem se questionar que Deus realmente existe e é isso que a gente anuncia com a vida”, afirmou.
Monjas fazem voto de caridade, pobreza e
clausura (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
Recreação, televisão e internet
Apesar de viverem isoladas, as religiosas não ficam desconectadas do mundo. O uso da televisão é restrito, mas quando é transmitido algum momento especial para os católicos e notícias sobre guerras, elas assistem aos telejornais. Do contrário, passam os momentos de recreação assistindo a filmes sobre a vida de santos.
Elas também fazem atividades físicas como jogar bola, alongamento, caminhada e bicicleta ergométrica e cantam músicas religiosas com um violão e um teclado.
"Temos a página no
Facebook, um site em fase
de construção e um blog"
Irmã Marta de Jesus Crucificado
Além disso, usam a internet como meio de informação tanto para notícias como para tirar riscos de desenhos para bordado. As redes sociais são usadas para divulgar a vocação, espiritualidade e entrar em contato com as jovens.
“Uma irmã que faleceu aos 86 anos foi uma das primeiras, pelo menos no Brasil, a começar a recrutar pela internet. Temos a página no Facebook, um site em fase de construção e um blog", disse.
*Sob supervisão de Fernando Bertolini, do G1 São Carlos e Araraquara.
Irmã Marta de Jesus Crucicado vive no mosteiro há 30 anos (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
tópicos: São Carlos
Ana Marin*
Do G1 São Carlos e Araraquara