Linha-dura, Alexandre de Moraes assume o ministério da Justiça.

‘Cabeça brilhante.’ Moraes ganhou o apelido 
do ex-chefe e hoje colega Kassab, por causa da careca. 
Agora, assume posto-chave no 
país - Daniel Marenco / Agencia O Globo

13 de MAIO de 2016 - SÃO PAULO — Durante a cerimônia de posse do presidente interino, Michel Temer, um dos personagens mais entusiasmados com o ritual era o novo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo. Primeiro integrante do novo gabinete a assinar o termo de posse, Moraes parecia estar satisfeito com a realização do desejo de participar do governo federal. Após a cerimônia, declarou rapidamente ao GLOBO que “a Lava-Jato é prioridade” de sua gestão e que dará “todo o apoio” à Polícia Federal e ao Ministério Público.

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Aos 47 anos, ele sempre soube que teria chances reais de trocar o governo paulista por Brasília se Temer virasse presidente. A mudança de ares aproxima o ex-promotor de sua maior ambição, a de ocupar uma das 11 cadeiras do STF.

Toda a negociação para ocupar uma vaga na Esplanada foi feita pessoalmente por Alexandre, que tem uma excelente relação com Temer e com uma de suas filhas. Por isso, na sede do governo paulista, na quinta-feira, causaram irritação os burburinhos de que Moraes entrou para o governo como indicado do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Foi na gestão do tucano que o novo ministro se projetou, pavimentando seu caminho em direção ao Planalto, embora tenham surgido muitas pedras no decorrer do período. A mais recente foi o tratamento dado na semana passada aos estudantes que ocupavam uma escola estadual paulista, surpreendidos pela invasão da Polícia Militar sem mandado judicial. Ou a reação intempestiva contra os manifestantes de partidos de esquerda e movimentos sociais que, na terça-feira de manhã, começaram a protestar contra o avanço do impeachment:

— Não acho que eram manifestações — disse ele em um evento no Comando-geral da Polícia Militar.

— Não tinham nada a pleitear. Foram atos de guerrilha e nós vamos identificar os responsáveis — completou.

No ano passado, em meio a uma série de chacinas na periferia de São Paulo, Moraes se apressou em aceitar a versão proposta por um delegado para a morte de quatro jovens que trabalhavam em uma pizzaria, em Carapicuíba. Segundo o relato, policiais teriam agido por vingança porque os rapazes mortos haviam roubado a bolsa da mulher de um deles. E modificaram a cena do crime para atrapalhar as investigações. Tudo se revelou falso.

Uma de suas principais bandeiras é a queda dos índices de criminalidade à frente da Secretaria de Segurança de SP. Organizações não-governamentais como o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, porém, contestam os números e os métodos, dizendo que a polícia paulista é uma das que mais matam.

Polêmicas na carreira de Moraes não faltam. Entre os clientes de seu escritório de advocacia já estiveram a Transcooper, uma cooperativa de perueiros que tem contratos com a administração municipal e foi investigada em 2015 por suspeita de lavar dinheiro de uma facção criminosa em São Paulo, e o deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Até virar secretário de Segurança Pública em 2014, Alexandre se aliou ao maior adversário de Alckmin nos últimos tempos: o então prefeito Gilberto Kassab. Na prefeitura de SP, ele tinha o título informal de supersecretário por acumular duas secretarias e duas estatais da gestão. Exemplo da intimidade que tinha com Kassab, este costumava se referir a Alexandre, em tom de gozação, como “a cabeça mais brilhante da prefeitura” por causa da careca. Por motivos ainda nebulosos, essa parceria foi rompida.


POR ALESSANDRO GIANNINI E SILVIA AMORIM


Fonte: O GLOBO

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