Em carta, empresário morto cita Dárcy como chefe de esquema na prefeitura.

Marcelo Plastino, dono da Atmosphera Construções e Empreendimentos 
(Foto: Reprodução/EPTV)

28 de NOVEMBRO de 2016 - Informações obtidas com exclusividade pelo Jornal da EPTV apontam o conteúdo da carta deixada pelo empresário Marcelo Plastino, que morreu na sexta-feira (25) em Ribeirão Preto (SP) após atirar contra a própria cabeça. No texto escrito à mão, Plastino revela que a prefeita Dárcy Vera (PSD) é a operadora do esquema de fraudes na Prefeitura de Ribeirão.

Um dos principais alvos da Operação Sevandija, que apura irregularidades em contratos de R$ 203 milhões em licitações do governo municipal, Plastino foi acusado de pagar propina a vereadores e a funcionários do alto escalão do governo Dárcy Vera. Segundo a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público (MP), a empresa dele, a Atmosphera, era usada como cabide de empregos dos parlamentares, que indicavam pessoas para trabalhar em postos terceirizados pela Companhia de Desenvolvimento Econômico (Coderp). Em troca, os vereadores deveriam apoiar os projetos de interesse do Executivo na Câmara.

O empresário, preso em setembro quando foi deflagrada a primeira fase da Operação Sevandija, estava em liberdade desde outubro após obter um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O corpo dele foi enterrado no sábado (26) no Cemitério Bom Pastor, em Ribeirão.

Procurada, a prefeita Dárcy Vera não comentou o teor da carta. A chefe do Executivo é alvo de uma investigação na Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo.

Em nota, a PF informou nesta segunda-feira (28) que trabalha em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) na análise do material apreendido, e que só vai se manifestar ao término da apuração.

Acusações feitas em carta

O documento de quatro páginas, assim como o pen drive e outros equipamentos eletrônicos apreendidos no apartamento onde o empresário se matou estão sob sigilo, mas informações obtidas pelo Jornal da EPTV dão conta que Plastino deixou uma lista com pelo menos 80 nomes de funcionários da empresa dele, a Atmosphera, todos indicados por políticos.

Ele cita que era pressionado pelo grupo e que o presidente afastado da Câmara, Walter Gomes (PTB), era o responsável pelo maior número de indicações, incluindo parentes. Plastino revela ter empregado um irmão de outro vereador, Cícero Gomes (PMDB), e que outros três parlamentares, além dos nove investigados pela Operação Sevandija, têm participação no esquema. No texto, o empresário afirma ainda que contratou um delegado a pedido de outro delegado. Os nomes das pessoas reveladas na carta são mantidos em sigilo.

Os documentos apreendidos no quarto do empresário apontam também que ele continuou agindo, mesmo após conseguir o habeas corpus em outubro, tendo investido dinheiro na campanha eleitoral de um dos candidatos à Prefeitura de Ribeirão Preto.

No texto faz uma revelação importante sobre a pessoa responsável por chefiar o esquema de fraudes e corrupção na prefeitura. O empresário cita que chegou a acreditar que o então superintendente da Coderp e do Departamento de Água e Esgoto (Daerp), Marco Antônio dos Santos, também preso em setembro, era o operador da organização, mas que, com o tempo, descobriu que a chefe do Executivo, Dárcy Vera, é a líder do grupo criminoso.

Na mesma carta, Plastino revela o medo de aceitar um acordo de delação premiada por causa dos riscos em que poderia colocar diferentes pessoas. Ele relata ainda que temia ser assassinado.

Segundo a polícia, o apartamento onde o empresário morava e foi achado morto possui um amplo sistema de monitoramento de câmeras e algumas portas são de aço. O imóvel tem dois cofres, um deles no banheiro. Plastino foi achado com um tio na cabeça e a arma utilizada não era registrada pelo empresário.

A prefeita Dárcy Vera (PSD) é investigada pela 
Procuradoria-Geral de Justiça de SP 
(Foto: Reprodução/EPTV)

Vereadores citados em carta

Procurado, o advogado de Cícero Gomes disse que não vai se manifestar sobre o assunto porque desconhece o conteúdo da carta.

A defesa de Walter Gomes informou que não teve acesso ao documento, mas que o vereador nunca negou que pedia emprego para outras pessoas, não só na Atmosphera.

Os outros sete vereadores, acusados de receber propina, negam participação em qualquer esquema.

Do G1 Ribeirão e Franca

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