Aline Wega recebe homenagem durante o Miss
Campinas 2014
(Foto: Arquivo Pessoal/ Aline Wega)
02 de AGOSTO de 2015 - “Eu acredito que foi uma missão. Eu tentei entender porque aquilo estava acontecendo e levar de um jeito positivo”, conta a miss Campinas 2004, Aline Wega, após superar o câncer por duas vezes. O primeiro apareceu dois anos após o título, no auge da carreira, aos 23 anos: linfoma de Hodgkin. Alguns anos após a cura, no entanto, foi "sacudida" pelo destino novamente e teve que lutar contra uma leucemia.
Mesmo com as drásticas mudanças na vida e na carreira, Aline encarou a dupla batalha sem perder a alegria e a serenidade, especialmente depois chegada do "milagre" de sua vida, o filho Igor.
Eu ficava morrendo de vergonha, não queria que ninguém soubesse. Mexeu muito com a minha autoestima"
Aline
A luta junto a ele marcou uma sequência de outros acontecimentos inesperados, desafiando a expectativa de vida dada pelos médicos, de apenas quatro meses. Atualmente, Aline concilia a maternidade com palestras motivacionais para divulgar a própria história por todo o Brasil.
"Mexeu com a autoestima"
A jovem alta, de cabelos longos e escuros, saiu de casa para trabalhar como modelo ainda adolescente. "Eu vivia da beleza e, de certa forma, levava uma vida fútil", conta Aline, que dividia sua rotina entre eventos e viagens.
Em meio a desfiles e fotos, em 2006, Aline recebeu o diagnóstico do linfoma que iria mudar radicalmente seu estilo de vida. “Foi um susto muito grande, principalmente para uma pessoa que vivia de beleza, foi um momento muito difícil. Quando você recebe a notícia, parece um atestado de óbito”, lembra.
Aline foi eleita miss Campinas no ano
de 2004,
com 21 anos
(Foto: Arquivo Pessoal/ Aline Wega)
"Eu me olhei no espelho e chorei muito. Eu ficava morrendo de vergonha, não queria que ninguém soubesse. Mexeu muito com a minha autoestima”, conta a miss.
Aline voltou para a casa dos pais, onde recebeu o carinho que faltava para superar o momento mais difícil de sua vida, até então. “Eu passei a receber muito mais carinho e a ser mais mimada”, conta.
Com o diagnóstico, a modelo teve que interromper a carreira, mas encarou com tranquilidade o tratamento que tinha pela frente e tentou levar uma vida normal. “Eu ia para as festas com amigos, fui até para a praia no Réveillon, intercalando com as sessões de quimioterapias”, relembra.
Após seis meses, o pesadelo acabou e a doença se estabilizou. Então, a modelo retomou a vida com o mesmo entusiasmo de antes. “Quando a gente é jovem e se cura de uma doença, você fica meio desnorteado, quer abraçar o mundo, aquela sensação de que renasceu, de querer fazer tudo”, diz.
Após a quimio, a médica tinha me dito que as chances de engravidar eram mínimas. Então, acredito que o Igor foi um aviso"
Aline
'Milagre de Deus'
Já viajando a trabalho pela Europa, a miss teve que mudar os planos quando descobriu que seria mãe. “Meu filho foi tudo que eu precisava. Após a quimio, a médica tinha me dito que as chances de engravidar eram mínimas. Então, acredito que o Igor foi um aviso, ele mudou completamente minha vida”, lembra.
O 'milagre de Deus', como Aline chama o filho Igor, nasceu em 2008. Se a doença havia apenas colocado uma vírgula na carreira de modelo, os cuidados e a preocupação com o filho colocaram um ponto final. Ela largou as passarelas e se formou em arquitetura e design de interiores, sempre pensando em se dedicar mais à maternidade.
A relação entre mãe e filho se tornou ainda mais importante e estreita quando, quatro ano mais tarde, outra batalha começava, dessa vez contra a Leucemia Mielóide Aguda.
Aline Wega, miss Campinas, raspou o cabelo
junto com o filho
(Foto: Arquivo Pessoal/ Aline Wega)
Transplante difícil
“Foi menos pior, acho que eu já estava mais preparada, mas nem passava pela minha cabeça que iria voltar”, conta. Com o novo diagnóstico, a única solução era fazer o transplante de medula óssea, um processo mais complexo. A chance de encontrar um doador compatível, segundo Aline, era de uma para 100 mil.
A miss ficou internada durante três meses para realizar sessões de quimoterapia e começou uma exaustiva campanha em busca de um doador.
“Fiz uma campanha nacional, fui em programas de TV e acabei ajudando outros pacientes também. Fiquei feliz por usar a minha imagem para ajudar as outras pessoas”, diz.
Segundo os médicos, Aline tinha quatro meses de vida, o que não abalou a confiança dela na cura. “Eu tinha muita certeza que o doador que ia parecer, não teve um momento que eu duvidei disso”, diz.
Aline ficou internada e fez quimioterapia
durante os
dois cânceres
(Foto: Arquivo Pessoal/ Aline Wega)
A batalha de Aline foi marcada novamente pela fé, determinação e alegria, dessa vez com a ajuda do filho. "Eu não queria que ele me visse triste, por isso eu ficava forte. Eu quis aproveitar todos os momentos que eu tinha ao lado dele, ele foi minha maior força para enfrentar", conta.
Antes do transplante, a miss resolveu raspar a cabeça na frente do filho, para que ele não se assustasse ou associasse o cabelo com a doença. “Ele foi forte, eu expliquei que quando eu voltasse, a gente ia poder ficar a vida inteira juntos’, relembra.
Oito doadores compatíveis
Depois de oito meses, Aline recebeu a notícia de que oito doadores, todos 90% compatíveis, haviam sido encontrados. O "renascimento", como ela chama o transplante, aconteceu no dia 14 de agosto de 2013. “Quando eu vi a medula do doador chegando, eu chorei, ajoelhei e agradeci”, desabafa.
Quando eu vi a medula do doador chegando, eu chorei, ajoelhei e agradeci"
Aline
Aline ainda não tem informações sobre a identidade do doador, mas ela não esconde a gratidão e admiração que sente pelo desconhecido.
“Não tem uma noite que eu não reze por ele. Foi como uma doação de sangue para ele, mas salvou uma vida”.
Referência para vítimas de câncer
“A maior lição que eu tirei é que existe amor ao próximo e o mundo não está perdido”, conta a miss após tantas vitórias. A própria história se transformou em referência para outras mulheres, ouvinte das suas palestras motivacionais. Para ela, as vítimas de câncer sofrem mais com o estado psicológico, principalmente por conta da aparência.
“Eu escolhi ajudar as mulheres a lidarem melhor com a doença, ensinando a usar a arma da beleza para enfrentar os efeitos dos tratamentos. Eu procuro mostrar que cabelo não é nada perto da grandiosidade do que é a vida. A autoestima é a beleza de dentro para fora”, conta.
Se eu pudesse viver careca a vida inteira, eu viveria. A cura depende da minha cabeça, não só da quimioterapia"
Aline
“Se eu pudesse viver careca a vida inteira, eu viveria. O importante é que eu estou viva e posso ficar perto do meu filho”, relata. Aline acredita que a forma de encarar a doença ajuda também no tratamento. “A cura depende da minha cabeça, não só da quimioterapia".
Segundo a ex-modelo, a autoestima do paciente influencia no apoio às pessoas próximas. “As pessoas não sabem nem o que dizer nessa situação, mas se eu já estou com um sorriso, fica muito mais fácil”, diz.
'Pró-Medula'
Aline vive ainda hoje com sequelas, mas que, segundo ela, não significam nada perto de tudo que já passou. A miss faz pilates para que a musculatura não atrofie, pinga colírios todos os dias e faz sangrias regularmente.
Aline também é voluntária e participa das campanhas do ‘Pró-Medula’, grupo que cadastra doadores de medula óssea. “O meu objetivo até o fim da vida é conscientizar as pessoas e informar sobre a importância de salvar vidas”, conta.
Ela mantém também contato frequente com outros transplantados, principalmente por meio das redes sociais e de seu site. “A troca de experiências é fundamental. É importante manter essa chama acesa porque, às vezes, a gente esquece e reclama de alguma coisa”, conta.
Aline conta que hoje se dedica a quatro coisas: a sua saúde, ao filho, ao trabalho e as palestras que realiza por todo o Brasil. Mas, não esquece um sonho antigo que ainda pretende realizar qualquer dia: tirar carta de piloto desportivo. E ela vai tentar.