Jovem morre após ser atendida seis vezes e mãe alega negligência médica.


Jovem morreu na Santa Casa de São Carlos nesta 
quarta-feira 
(Foto: Silvia Mattos/Arquivo Pessoal)

23 de DEZEMBRO de 2016 - Uma jovem de 17 anos morreu na quarta-feira (21) na Santa Casa de São Carlos (SP) e a família acredita em negligência médica. Segundo a mãe, antes de ser submetida a uma cirurgia e sofrer cinco paradas cardíacas, a filha teve muita dor e foi atendida pelo menos seis vezes em duas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) da cidade. A causa da morte ainda é desconhecida. Os familiares afirmaram que vão registrar um boletim de ocorrência e entrar com uma ação na Justiça.

A prefeitura informou que será aberta uma auditoria para analisar os prontuários da paciente e abrirá uma sindicância para apurar os atendimentos prestados nas UPAs. Já a Santa Casa informou que cumpriu todos os protocolos de atendimento médico hospitalar com a paciente, dentro do serviço de Urgência e Emergência que o hospital disponibiliza.


Jovem foi atendida na UPA do Santa Felícia 
(foto) e
da Vila Prado 

(Foto: Reginaldo dos Santos/EPTV)

Atendimentos
A mãe contou que Jaqueline de Queiroz Mattos Zanquim começou a reclamar de dor na segunda-feira (19), mas não recebeu antendimento adequado nas UPAs dos bairros Santa Felícia e Vila Prado.

“Ninguém pediu exame para ver o que era. Se recusaram até a tentar diagnosticar dengue. Sei que nada vai trazer minha filha de volta, mas eles são médicos e estudaram para isso, eles deveriam saber o que ela tinha. Talvez se tivessem tentado fazer qualquer exame que fosse, ela estaria aqui agora”, desabafou Silvia de Queiroz Mattos.

De acordo com a mãe, durante os atendimentos foram aplicadas altas doses de soro e medicamentos. Ela disse ainda que jovem recebeu diagnósticos variados, como gripe forte, pneumonia, dengue e até mesmo ‘nenhum problema’.


"É minha morte saber que não posso mais ver ela e nem saber porque ela morreu"
Silvia de Queiroz Mattos, mãe

Dores abdominais
Na quarta-feira, a jovem reclamou de dores abdominais e teve febre alta. Com dificuldades para respirar, ela chegou a desmaiar no banheiro, contou a mãe.

Após colocar a filha no carro e levá-la à UPA da Vila Prado, Silvia alegou não ter recebido ajuda de nenhum enfermeiro ou funcionário, mesmo pedindo para que a filha fosse socorrida de imediato.

“Eu buzinei, gritei por socorro e ninguém apareceu. Tive que arrastar minha filha porque não conseguia carregar ela. Ela estava toda gelada, roxa e só dizia que não conseguia respirar. Quando cheguei, uma funcionária perguntou se era ‘droga ou bebida’, foi humilhante para nós. Fiquei desesperada”, disse.



Mãe alega que morte de jovem foi negligência
médica 

(Foto: Silvia Mattos/Arquivo Pessoal)

A jovem foi encaminhada no período da noite para a Santa Casa, onde foi atendida e passou por cirurgia, mas quando já estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) sofreu cinco paradas cardíacas e não resistiu.

“Ela só sabia chorar de dor. Disseram que iam colocar uma câmera por dentro para ver onde era a infecção, e como demorou um pouco, fiquei com esperança de que ela estivesse sendo curada, mas então o médico veio até mim e disse que ela tinha morrido. Fiquei sem chão, meu mundo acabou”, contou a mãe emocionada.

‘Menina sonhadora’
De acordo com a mãe, Jaqueline lutava pelo sonho de se formar em arquitetura. Recentemente havia sido aprovada em uma faculdade, mas não conseguiu concluiu a matrícula por falta de dinheiro. Além disso, a jovem também perdeu a formatura do ensino médio.

“Ela foi enterrada com o vestido que compramos para usar na formatura. Ninguém tem ideia do quanto é doloroso perder uma filha, ver ela morrendo e não poder fazer nada. Eu estava de mãos atadas, sem dinheiro, sem gasolina para conseguir socorrer ela e sem atendimento necessário. O posto não tinha remédio que receitaram, ninguém pediu um exame sequer. Se ela tivesse sido diagnosticada nas primeiras vezes, estaria aqui agora”, desabafou a mãe.



Jovem de 17 anos sonhava em ser arquiteta,
segundo a mãe 

(Foto: Silvia Mattos/Arquivo Pessoal)

Para ela, uma das piores sensações é ainda não saber qual foi a real causa da morte da filha, que sempre foi saudável.

"Parece que todo o meu sacrifício para criar quatro filhos sozinha foi em vão. Aquelas palavras [do médico] não saem da minha cabeça, é minha morte saber que não posso mais ver ela e nem saber porque ela morreu”, contou Silvia.

O corpo da jovem foi sepultado na tarde de quinta-feira (23). A família aguarda o resultado do laudo com a causa da morte.

Sob supervisão de Fabio Rodrigues, do G1 São Carlos e Araraquara.


Thayná Cunha*
Do G1 São Carlos e Araraquara

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